Vitor Belfort descansa durante mais um dia de
treino no CT (Foto: Ivan Raupp / Globoesporte.com)
Vitor Belfort encontrou na religião a força para superar o desaparecimento da irmã, caso que ocorreu em 2004 e até hoje não tem explicação. Desde então, diz ter se tornado um homem mais maduro e dedicado, acima de tudo, à família. Dentro do octógono, o lutador vive uma das melhores fases da carreira, física e tecnicamente. Mais centrado, ele procura não entrar em provocações de adversários. Porém, Vitor quebrou boa parte desse protocolo ao conceder entrevista exclusiva ao SPORTV.COM, em seu novo centro de treinamentos na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
À sua maneira - sem ofensas ou palavrões -, ele direcionou críticas ao desafeto Wanderlei Silva, Anderson Silva e até Lyoto Machida, a quem chamou de "demagogo". Sobre Spider, mostrou uma ponta de decepção por conta do episódio do último domingo do The Ultimate Fighter Brasil - Em busca de campeões, em que o campeão dos médios do UFC não visitou o time de Belfort, passou dicas dele para Wanderlei e ainda se referiu ao treinador da equipe verde com um xingamento:
- Quando eu não tenho nada de bom para falar de alguém, não falo nada. Acho que cada um vai colher o seu fruto. Ele vai colher o dele. Estava lá torcendo (para Pé de Chumbo, que perdeu para Serginho Moraes), depois ficou com cara de tacho, né? Como campeão, ele tem mostrado quem ele é. (...) Na realidade, às vezes o sucesso sobe à cabeça das pessoas, e elas tendem a se sobrepujar em algumas coisas. O verdadeiro guerreiro não se excede na vitória. Acho que muitas coisas poderiam ser evitadas, mas, enfim, ele está mostrando sua raiz como pessoa.
Encarada de Anderson Silva e Vitor Belfort no UFC 126: Spider venceu por nocaute (Foto: Getty Images)
Antes da entrevista, ao ser brevemente questionado a respeito da "goleada" de 7 a 1 nas quartas de final do TUF Brasil, Vitor esbanjou confiança e disparou:
- É 8 a 1! É 8 a 1! - disse, abrindo um largo sorriso no rosto, em referência à luta que fará contra Wanderlei Silva, o técnico da equipe rival, no dia 23 de junho, em Belo Horizonte, pelo UFC 147.
Mas o duelo contra o "Cachorro Louco" é um dos poucos que ainda estão no caminho de Vitor Belfort. Ele revelou que vai fazer, no máximo, esta e mais duas lutas antes de se aposentar. Depois disso, pensa seriamente em se tornar dirigente do UFC, convite que já recebeu da organização. E não para por aí: o peso-médio conversou bastante sobre o reality show e admitiu o erro por ter dito que Rony Jason não havia lhe pedido para não enfrentar o amigo Gasparzinho. Sobre a luta entre amigos, defendeu mais do que nunca sua tese a favor da competição e garantiu que, caso fosse desejo do Ultimate, enfrentaria até o pupilo Cezar Mutante. Leia, a seguir, na íntegra:
SPORTV.COM: Você reencontrou esta semana o Juan, seu ex-companheiro de zaga. Você era bom de bola?
VITOR BELFORT: Acho que não (risos). Acho que eu fazia o meu papel como zagueiro, mas nunca fui muito habilidoso. O Juan é muito habilidoso. Ele é um zagueiro difícil de se achar. Faz gol, trabalha o meio de campo. O Juan é um diamante que o Brasil tem.
Se não tivesse se tornado lutador, teria ingressado na carreira de jogador de futebol?
Toda criança no Brasil tem esse sonho. Hoje, toda criança sonha ser jogador de futebol ou lutador do UFC. O futebol sempre fez parte do brasileiro. Só que eu migrei para a luta desde cedo. Graças a Deus consegui ser um precursor, um abridor de caminhos para o meu esporte. Nós (o MMA) não temos a economia ainda como o futebol, não ganhamos contratos milionários como o futebol, mas no futuro breve vamos ter grandes contratos, assim como existe hoje no boxe, onde ganham US$ 30 milhões por luta (o equivalente a R$ 60 milhões). Vai demorar ainda, mas, economicamente falando, não estamos no mesmo patamar, só em nível de visibilidade. A mídia hoje tem um retorno com o MMA como tem com o futebol. O UFC é uma grande plataforma para o Brasil. Então, fico feliz de poder ter tido sucesso na minha empreitada. E feliz também pelo Juan, por ele ter conquistado o que conquistou. Ele merece.
Belfort treina de olho no UFC 147, quando enfrenta
Wanderlei (Foto: Ivan Raupp / Globoesporte.com)
Você é um cara bem instruído, fala inglês muito bem. Pensa em se tornar dirigente de MMA quando parar de lutar?
Ah, penso... O UFC (Dana White e Lorenzo Fertitta) já me ofereceu o papel de executivo para quando me aposentar. Eu tenho vontade de poder trabalhar para o UFC, de ser um executivo para eles, principalmente no meu país. Só para se ter uma ideia, o reality show dos Estados Unidos atinge 1,4 milhão de pessoas na televisão aberta de lá. O reality show na Globo atinge 90 milhões de pessoas. A gente vê o valor do brasileiro. Eu estava conversando com o Dana antes de vir para cá, e ele fica abismado com essa diferença. Esse fruto é graças ao Brasil, à mídia, à Globo, de terem acreditado no nosso esporte. Demorou, mas acreditaram na hora certa. Acho que eles entraram e estão investindo aos poucos, estão se especializando.
E você pretende lutar até quando?
Procuro fazer mais duas ou três lutas e parar, contando com essa agora (contra Wanderlei Silva). Essa e de repente mais uma, essa e de repente mais duas... É a primeira vez que falo isso.
Se eu estiver com vontade de ir para a academia, vou lutar mais uma vez (e completar três no total). Se eu já estiver cansado e sem vontade, acho que não é justo com quem vai pagar o ingresso para me ver, não é justo comigo, com a minha família, por esse sacrifício que eu faço"
Vitor Belfort, sobre aposentadoria
Você pensa em terminar com o cinturão, ou esse não é mais seu objetivo?
Isso é uma coisa que vai ser sempre meu objetivo. Mas meu objetivo é ganhar meu próximo combate. Quero lutar pelo cinturão, mas isso não é uma decisão minha. Mas não sou um cara frustrado. Já conquistei dois cinturões no UFC em categorias diferentes (peso-pesado e meio-pesado). Eu hoje luto por prazer, não por necessidade. Graças a Deus tenho uma situação financeira estável. Acho que o cinturão é uma coisa que faz parte de todo lutador, mas luto por prazer. O povo brasileiro pode esperar mais duas ou três lutas do Vitor Belfort, e espero que eu possa dar o meu melhor nessas duas ou três lutas que vou fazer. Se eu estiver com vontade de ir para a academia, vou lutar mais uma vez (e completar três no total). Se eu já estiver cansado e sem vontade, acho que não é justo com quem vai pagar o ingresso para me ver, não é justo comigo, com a minha família, por esse sacrifício que eu faço. Então, sou um cara bem satisfeito, bem realizado. Estou feliz pelo lugar onde o MMA chegou. Acho que vou ter muito para oferecer para o futuro do esporte no Brasil. Vai ser uma grande jornada para mim.
Sua relação com o Dana White é claramente mais próxima do que a de outros lutadores com ele. E eu li que você foi morar em Las Vegas para ficar mais próximo desse mundo de negócios. Você se considera um homem de negócios?
Isso é uma das coisas que eu gosto. Aprendi que tudo que a gente faz tem de ser com alegria. A Bíblia diz que a alegria do Senhor é a nossa força. Quando a gente fala que é a nossa força, é o nosso prazer, a nossa fortaleza, como se fosse um castelo. A vida do ser humano é baseada em três valores importantes: nos relacionamos com a economia, a política e a religião. Então esses são os três fatores que geram todo presidente, toda eleição, toda decisão, todo Senado... E o povo brasileiro não entende muito de política e não tem prazer. Quando você tem prazer em saber, não precisa entender as coisas totalmente, mas tem que entender o contexto. Quando alguém te oferece um negócio, você primeiro tem que entender do que se trata e ter prazer em fazer um negócio. Para citar um exemplo, fui contratar uma pessoa para trabalhar lá em casa, e na entrevista ela falou que não gosta de fazer o trabalho doméstico. Ali ela já foi banida. Então o RH (recursos humanos, responsável por contratações) de toda empresa é muito importante hoje em dia. O RH é o coração de uma empresa. Eu amo o que eu faço. Amo fazer negócios, amo me relacionar, amo ter ideias e poder transformá-las em coisas que tragam benefícios prazerosos pessoais e profissionais. E adoro negócios. Tenho certeza de que vou ter prazer em fazer negócios, mas a realização depende muito de a quem você se associa e de que tipo de negócio você faz.
Vamos falar sobre o TUF. Foi bem marcante a cena em que você chorou. Costuma se emocionar daquela maneira ou a sua reação surpreendeu a si próprio?
Sou um cara que vivo muito o momento e não tenho vergonha de me expressar. Eu cometo erros, e uma das coisas em que achei que cometi um erro grave no TUF foi na hora da discussão (com Wanderlei). Lembro que o (Luiz) Dórea falou: comecei a dar satisfação na hora em que o Wanderlei me indagou, porque ele estava muito frustrado com as derrotas, então ele achou um motivador para poder se soltar e vencer aquela batalha de conversa. Não entrei muito na dele, nunca entrei muito naquela coisa da agressão e tal, e ele ficou muito naquela de amigo, amigo, amigo... Na realidade, é como o Cigano falou uma vez para mim: ele não lutaria contra o Minotauro por dinheiro nenhum, por cinturão nenhum. Eu respeito isso, o amigo que não quer lutar contra o amigo. Agora, o amigo que se inscreve e fala que não quer lutar na primeira, mas quer lutar na segunda não tem coerência. Se você não quer lutar contra seu amigo, você não compete, não entra em uma competição com ele. Há coisas que não têm preço. Você não vai lutar contra o seu irmão por 10, 20, 30, nem por um milhão de dólares. Você não vai trair sua esposa só porque a mulher é bonita ou feia. Essas coisas para mim não têm preço. Eu respeito a pessoa que não tem o desejo, mas da maneira que foi...
Eu me lembro que ele (Rony Jason) entrou no vestiário, pediu para não lutar. Eu me esqueci e acabei falando que não tinha me pedido, e na realidade o Gaspar pediu para o (Gilbert) Durinho para lutar contra o Jason. É muito pedido ali. São lutadores mimados, têm tudo e querem as coisas. O treinador não tem que dar satisfação do porquê de não ter escalado. Ele assume uma posição de poder ter resultado, e não de agradar ao atacante ou ao zagueiro. E resultado a gente teve, foi 7x1, tanto que a gente teve que fazer um empréstimo ao Wanderlei, coisa que não gostei. Mas, enfim, tive que fazer isso. O Dana White disse que se eu não fizesse, ele faria. E eu falei que não. Se eu sou um líder, tenho que fazer. Foi triste de ver aquilo, mas é óbvio que cada um recebe de uma maneira. Eu não julgo ninguém, e acredito que fiz um bom trabalho como treinador. E não tive vergonha de chorar no momento em que senti. Senti principalmente pelo Bodão, de ter que entregá-lo para o Wanderlei. Não tanto pelo Serginho, que não treinou como acho que deveria treinar. Mas na própria troca a gente vê o valor. Vocês vão ver quando eles incorporarem o time azul. Teve uma desvantagem para quem foi para o time do Wanderlei, porque teve que se adaptar durante uma semana a uma equipe nova. Então é isso, sentimento é isso, a gente tem que botar para fora. Falo para o meu filho que, se estiver com vontade de chorar, que chore, mas tem que ter um motivo. Se Jesus chorou, por que eu não vou chorar?
(...) o Lyoto foi demagogo, porque ele competiu com o irmão várias vezes em final de caratê, o Chinzo Machida. Por que ele não é a favor? Se ele competiu no caratê, então está se contradizendo"
Sobre a questão da luta entre amigos
Você é o único dos grandes nomes do nosso MMA que defende essa ideia de que amigos devem lutar entre si, por se tratar de uma competição. Como você vê essa diferença de opinião?
É como no início lá, na época de treinar arte marcial. Eu era o único, e depois todo mundo aderiu. Pode anotar: esses caras vão ter que aderir, vão ter que mudar a mentalidade. Acho que visão de negócios é isso. O homem de negócios consegue ver um bom negócio no futuro. O homem que não é não consegue. Você fala "enxerga!", mas ele não consegue. Como eu! No ano 2000 eu botei o MMA na televisão aberta (na luta contra Chuck Liddell). A gente deu 12 pontos de ibope. Isso à 1h da madrugada é muita coisa. Cada um tem uma visão, respeito a visão deles. Quando eu sou a favor disso, as pessoas encaram como se o Vitor não tivesse amigo. Gente, amizade para mim é muito profundo. As pessoas confundem amizade com treinamento e profissionalismo. Você trabalha dentro de uma empresa, o Eike Batista por exemplo. Se ele for amigo de todo mundo e não for despedir, não vai ter sucesso. Na bolsa de valores, se o cara não estiver rendendo é mandado embora.
É óbvio que se cria o vínculo de amizade, e eu respeito aquelas pessoas que falam que não lutam por dinheiro algum. Agora, luta contra você só na final? Por exemplo, o Lyoto foi demagogo, porque ele competiu com o irmão várias vezes em final de caratê, o Chinzo Machida. Por que ele não é a favor? Se ele competiu no caratê, então está se contradizendo. Em todos os esportes eles competem, no judô... Por que no MMA vai ser diferente? É muito egoísmo eu ser o campeão do UFC, ganhar dinheiro do "pay per view" e dizer: "Olha, a gente é amigo, então não vem tirar meu cinturão, porque eu sou o campeão. Quando eu perder o cinturão, você pode ser o campeão". Acho isso desleal. Muitos lutadores aderiram a esse pensamento porque têm medo de perder, aí querem se tornar amigos, outros são inseguros, outros vêm de equipes que têm esse pensamento. Eu não condeno, eu respeito, mas acho que as pessoas têm que respeitar a minha visão, que é profissional. E todo mundo que vive do esporte pensa assim. O Bernardinho pensa assim. As Olimpíadas pensam assim. Então, se nós queremos ser aceitos, ser um esporte olímpico, temos que pensar como esporte. Não tem nexo, não tem profissionalismo, não vamos chegar a lugar nenhum pensando dessa maneira.
Vitor discute com Wanderlei no TUF por causa da luta Jason x Gasparzinho (Foto: Divulgação - TUF Brasil)
Se eu tivesse que lutar contra o Mutante, eu iria lutar. Se o Dana White virar e falar para mim que é hora de eu lutar contra o Mutante, se eu for o detentor do cinturão, e ele for lutar pelo título, não vou ser injusto com ele, caso ele tenha essa oportunidade"
Exemplificando sua posição
Então te pergunto: se fosse desejo do UFC, você lutaria contra o Mutante, por exemplo?
Já falei para ele. Se eu tivesse que lutar contra o Mutante, eu iria lutar. Se o Dana White virar e falar para mim que é hora de eu lutar contra o Mutante, se eu for o detentor do cinturão, e ele for lutar pelo título, não vou ser injusto com ele, caso ele tenha essa oportunidade. É óbvio que não tenho o desejo, não quero lutar contra o meu amigo, mas eu sou a favor de as pessoas se enfrentarem mediante essas circunstâncias. Então me explica: o Wanderlei não treina com o Anderson Silva, mas também é amigo do outro, e do outro. Daqui a pouco ninguém luta com ninguém. O Pezão é amigo do Cigano, que é amigo do Minotauro, e daqui a pouco ninguém se enfrenta mais. Eu respeito as pessoas que não querem lutar contra amigos, mas quando você entra em uma competição como o TUF com o seu amigo, você sabia que ia lutar pelo mesmo objetivo que ele, então os dois (Jason e Gasparzinho) sabiam que poderiam se enfrentar. Eu não programei de botá-los. Por acaso o Gasparzinho era o mais indisciplinado e ficou por último. Não lutou na primeira porque estava menos preparado e menos treinado. Fui casando as lutas mediante as escolhas dos treinadores, e sobraram os dois. Foi fato do acaso.
Agora, ficou aquele peso de que o Vitor botou os amigos para lutar. Não! Os amigos se inscreveram em uma competição, pô! Eu tinha que casar as lutas mediante a amizade dos caras? Não. Fomos casando mediante as escolhas. E acabou. Estavam ali para competir, e continuam amigos, não mudou a amizade deles em nada. Acho que isso prova que você competir com o outro não muda nada. A gente tem que ver o outro lado. Respeito quem pensa assim, mas acho que vão mudar de opinião quando tiver ainda mais competição no esporte. Hoje todo mundo treina junto, praticamente, então é difícil falar. Estou adiantando algo que vai ser um mito, que vai se desfazer. Não tenho problema em me expor. Se alguém não concorda com isso, paciência. Que arrume outra competição, outro trabalho, né?
Você recebeu muitas críticas nas redes sociais por ter casado a luta Rony Jason x Gasparzinho e depois ter brigado para não ter que redividir os times. Acharam que você foi contraditório. O que você tem a dizer sobre isso?
Briguei para não dividir os times. Eles iam competir da mesma maneira. Eu achei injusto com os caras que foram para lá. Eu era a favor de eles competirem sendo da mesma equipe. As pessoas não entenderam ainda. São um bando de ignorantes! Eu não queria dar o cara para o outro time. Queria que eles treinassem e competissem juntos. Não tinha necessidade. Eu queria que o time do Wanderlei ficasse na plateia assistindo aos amigos competirem. Estão achando que eu não queria que eles competissem? São ignorantes! Iam sair na mão pelo time verde. Não foi o azul que os classificou. Foi injusto o Serginho, o Bodão e o Pepey terem que ir para lá. Pelo amor de Deus! Os caras são muito ignorantes! Têm que fazer escola de vida! Queria que os verdes saíssem do vestiário abraçados e fossem lá mostrar que amigo luta contra amigo. E que vencesse o melhor, isso que seria feito.
Você já se antecipou e disse que não lembrava de quando o Jason pediu para não enfrentar o Gasparzinho. Acha que aquilo pode ter sido ruim para a sua imagem de alguma maneira?
É isso, foi um erro meu. Todo mundo erra. A integridade do homem é assumir seu erro. Agora, tem gente que faz coisas erradas e diz que não sabia. Eu errei. Está provado que o cara falou comigo e eu não lembrei na hora que o Wanderlei falou. E o Gaspar foi falar com o Durinho que queria lutar contra o Jason. E a gente acabou atendendo a um pedido do Gaspar, e não mostrou isso. Se você pegar a fita lá vai ver que depois da confusão entre eles, em um episódio anterior, ele disse que queria lutar contra o Jason. Então acabou que tive que me explicar para o Wanderlei, mas não tinha que explicar nada. Tinha que ter batido nas costas dele e falado: "Wanderlei, você está tomando de 7 a 1, fica quieto aí porque está dando certo para mim, e guarde seus sentimentos para você. Decide aí que eu decido aqui. Você é time azul, eu sou verde, e ponto final". Agora, errei, fazer o quê? O Jason tinha falado comigo de uma maneira sutil, "se der" (para não enfrentar Gasparzinho). Mas sou homem para assumir meu erro. Ninguém é perfeito, e assumi meu erro.
Antes da vitória do Serginho, você chegou a dizer que ele foi o único que não se encaixou na sua equipe. Por quê?
Depois ele se mostrou lá, falou que queria ir para o time do Wanderlei. Ele não se encaixou, não treinava, estava sempre ali reclamando do joelho, disso, daquilo. Não sei. Os treinadores também reclamaram o tempo inteiro dele, dizendo que ele estava sempre reclamando e não treinava. Eles me passaram isso, e eu percebi.
No último episódio, o Serginho apareceu em uma conversa com o Bodão falando que houve falsidade no time verde e que teve dedo seu. Ele insinuou que o Mutante e o Sarafian já estivessem escolhendo, junto de você, adversário para as semifinais.
Eu sou o cara que decido. Tanto que falei abertamente com eles. Não deixei o Dana White dividir porque eu sou o líder. Falei lá que o Cezar não tinha clima para ir para o time azul.
E como foi essa questão da intriga entre o Mutante e o Wanderlei?
O Wanderlei ficou de coisinha e birrinha com o Cezar porque ele treina comigo, querendo implicar. E o Sarafian teve um atrito com o Babalu lá dentro. Então fui correto. Fiquei triste principalmente pelo Bodão, fui sincero, porque ele foi um dos caras com quem eu mais me identifiquei na casa. E pelo Serginho também, apesar de a gente ter tido alguns desentendimentos. A decisão foi essa. O dedo foi do Vitor mesmo. Eu sou o treinador, e a comissão toda votou a favor disso.
Uma possibilidade que você levantou foi a de chamar o Bodão para treinar com você após o programa. Ele vai fazer parte da sua equipe?
Já chamei o Bodão. Ele pode vir quando quiser. Cada um sabe o que é bom para si. Respeito muito isso. Ele foi convidado e sabe que a qualquer momento pode estar aqui. Só depende dele.
Ah, eu nem ligo. Cada um tem sua horta. Deixa ele comer a dele que eu vou comer a minha, que é orgânica. A dele não está orgânica, está muito 'junk food'"
Sobre as provocações de Wanderlei Silva
As provocações do Wanderlei te atingiram em algum momento? Como recebe as coisas que ele fala de você quando está assistindo ao programa?
Ah, eu nem ligo. Cada um tem sua horta. Deixa ele comer a dele que eu vou comer a minha, que é orgânica. A dele não está orgânica, está muito "junk food" (expressão americana que define a chamada "comida engordativa", como pizza, hambúrguer, etc.). As palavras estão muito "junk food".
O Anderson Silva só visitou o time azul e ficou na torcida por eles. Achou injusto da parte dele com os atletas do seu time, pelo que ele representa e pelo fato de Lyoto, Cigano e etc. terem visitado os dois times?
Quando eu não tenho nada de bom para falar de alguém, não falo nada. Acho que cada um vai colher o seu fruto. Ele vai colher o dele. Estava lá torcendo (para Pé de Chumbo, que perdeu para Serginho Moraes), depois ficou com cara de tacho, né? Como campeão, ele tem mostrado quem ele é. E tem muita gente que gosta dele. Eu não estou aqui para falar o que eu acho. Isso eu guardo para mim. Cada um tem direito de errar. Basta você perguntar o que ele acha. O que acho fica guardado para mim, e cada um tira suas conclusões. Vamos seguindo a vida. Todo mundo tem direito às suas escolhas, é o livre arbítrio.
Ele ainda desenhou um pé no seu pôster, em alusão à luta entre vocês no UFC 126 (Anderson venceu por nocaute com um chute frontal cinematográfico). A rivalidade entre vocês é tão grande assim?
Não tem não. A luta entre a gente trouxe grande louros para ele. Na realidade às vezes o sucesso sobe à cabeça das pessoas, e elas tendem a se sobrepujar em algumas coisas. A vitória é isso aí, eu reconheço. Ele foi muito bem naquela luta, me deu um chute muito bem aplicado, colheu o fruto dele. Acho que merece, não foi à toa. Esse chute foi uma coisa que ele treinou e conseguiu acertar. Dando sorte ou não, tem que respeitar. O verdadeiro guerreiro não se excede na vitória. Acho que muitas coisas poderiam ser evitadas, mas, enfim, ele está mostrando sua raiz como pessoa. A vida é assim, cada um fazendo sua hortinha, e em um futuro mais breve isso tudo vai passar.
Viu que ele passou dicas suas para o Wanderlei? Disse que não poderia andar para trás e se referiu a você com um xingamento. O que achou disso?
O que eu achei? Como falei, minhas palavras são orgânicas, e as dele são "junk food". Não gosto de falar palavras feias, sou contra isso. É difícil a gente controlar a boca e a vontade dos outros. Acho que isso é um exemplo ruim para os filhos dele. Quando a gente fala com falta de respeito... O respeito a gente demonstra, não fala. Ele está fazendo a horta dele. Eu não concordo, mas fazer o quê? Ele falou, mas também não guardo rancor. Sou bem realizado, sei quem eu sou e do que sou capaz. Competição é isso: um ganha, outro perde. Não quer dizer que um é pior do que o outro. E nada como um dia após o outro. A virtude do grande campeão é respeitar seu adversário. Eu o perdoo.
Entre as lutas que você pretende fazer, uma delas seria contra o Anderson?
Com certeza seria um bom combate, um bom tira-teima. Se tudo der certo, quem sabe? O futuro está nas mãos de Deus. Mas hoje eu tenho outro Silva no meu caminho (risos).
Um palpite: Anderson Silva ou Chael Sonnen?
Não sei. Acho que o Anderson tem mais chance, leva mais vantagem
Em relação ao Lyoto Machida, ele disse que pensa em baixar para os médios para fazer uma luta experimental. Como você acha que ele se sairia na sua categoria?
É um grande lutador, mas acho que ele não poderia lutar contra o Anderson ou o Wanderlei, porque eles são amigos, né? (risos) Acho que ele deveria repensar. Teriam muitos amigos nessa categoria. Então, não sei se ele teria muito êxito. Mas se ele for a favor (da luta entre amigos) e conseguir executar o que executava no caratê, acho que teria um grande favoritismo. É um atleta muito duro e muito competente.
O lutador ajeita o equipamento de treino, com Mutante (de preto) atrás (Foto: Ivan Raupp / Globoesporte.com)
Favoritismo contra qualquer um?
Contra qualquer um, em qualquer peso. O Lyoto é um grande atleta.
Até contra você?
Até contra mim, com certeza (risos). Ah, não tem favorito não. Favorito é aquele que treina mais, mas acho que o Lyoto seria um dos grandes favoritos. Não existe "o" favorito. Favorito é aquele que treina e ganha, aquele que executa. Mas ele tem grandes qualidades, seria um grande adversário.
Para finalizar: o Gil Martinez, seu treinador de boxe, foi córner do Jorge Lopez, atleta do Wanderlei, e vestiu uma camisa do Wand Fight Team no último evento do UFC. Afinal, ele virou a casaca?
Não sei, é difícil. Não controlo os desejos das pessoas, esse negócio de camisa. Isso não cabe a mim. Eu sou um profissional, e ele é um treinador de boxe que me treina, como outros treinadores também. Desta vez eu estou com o (Rubens) Dórea. Ele (Gil Martinez) não está na preparação, mas é um dos que me treinam lá em Las Vegas.
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