sábado, 19 de maio de 2012

PEQUENO TRECHO DA BIOGRAFIA DE ANDERSON SILVA

As intimidações da Chute Boxe

“A turma da Chute Boxe voltou a criar problemas. A gente sofria todo tipo de represália. Os caras destruíam a academia, encontravam o Dalledone chamavam pra brigar quebravam o carro dele, ele enfrentou enquanto podia, mas era muito novo na época”

“Edmar me contou mais tarde que, antes de ir para os EUA, havia deixado todos os diplomas de faixa preta assinando, inclusive o meu. Os caras da Chute Boxe pressionaram Dalledone e mandaram rasgar os diplomas. A situação se tornou tão insuportável que ele não agüentou. Um dia reuniu os alunos e comunicou: vou fechar a academia...”


Os desentendimentos com Pelé

“Foi como aluno do Noguchi que, em uma espécie de revanche com o que haviam feito com o Edmar, disputei duas lutas de boxe tailandês com um integrante da Chute Boxe: Pelé...fui roubado nas duas lutas...”

“Numa manhã de chuva, enquanto carregava minha filha no colo a caminho da creche, Pelé veio em minha direção com sua caminhonete Ranger. Parou no sinal. Olhou pra uma poça d’água e depois para a gente. Pensei: “Não. Ele não vai fazer isso...” . Era como se tivesse lido os pensamentos dele. Pelé passou justamente em cima da poça, jogando água em mim e na minha filha...”


O “famoso” desentendimento com Rafael Cordeiro, que proibiu Anderson de treinar Jiu jitsu, mesmo ele sendo de outra academia, para favorecer um amigo. (Penão, aluno do Carlson Gracie)

“Rafael me chamou e eu subi para onde ficava o vestiário. O lugar era pequeno, apenas alguns bancos e armários. Sentei e ele permaneceu em pé:
- Porra, já não tinha falado pra você parar de dar aula de jiu-jitsu? – disparou
- Mestre... – balbuciei
- Não me chame de mestre! – interrompeu com rispidez
- Mestre, você não é meu professor de jiu jitsu, meu professor de jiu jitsu – Almir – me deixou dar aula – argumentei.
Rafael então me desferiu um tapa na cara. Sem mais nem menos... Jamais sofrera uma agressão como aquela antes, nem pelas mãos de meu tio ou de meu pai
- Mestre...
- Já falei pra não me chamar de mestre!!! Toda vez que a gente encontrar você e seus alunos, todo mundo vai apanhar - concluiu Rafael
Ao descer, ainda tive de ouvir Rudimar....
- Avisa esse Almir que o próximo é ele. Ele está muito folgado...”


Sobre sua integração e o ambiente hostil na Chute Boxe

“A Chute Boxe tinha poder de influência sobre as outras academias porque invadia, batia em todo mundo. Era o modo de agir deles. E todos muito grandes, fortes, bombados. Do nosso lado, éramos franzinos, tínhamos apenas técnica.”

“Passou um tempo e reencontrei o Rafael. Mesmo depois de tudo que havia passado, ele me convidou para treinar na Chute Boxe... No primeiro dia lá, subi num tatame gigante. Os outros lutadores esfregaram as mãos... Tudo era pesado. Era mais fácil lutar que treinar na Chute Boxe. Logo no primeiro dia, Pelé tentou me acertar, Wanderlei tentou me acertar. Nilson Castro também. Tive que colocar prática tudo que havia treinado. Sempre fui mais técnico do que eles, tanto no chão quanto em pé

Havia a Chute Boxe em minha vida, e havia vida fora da Chute Boxe. Mesmo proibido de treinar em outros lugares, apurava minha técnica sem que soubessem. Eles podiam estar à frente na força bruta, mas tecnicamente sempre fui melhor. O que chegava mais perto era o Rafael... Já o Rudimar, dono da academia, nunca tomou um beliscão, nem faixa preta é...”



Sobre a saída da Chute Boxe e retaliações

“Quando Rudimar e Rafael acompanhavam Wanderlei às lutas no Japão, eu era responsável pelos treinamentos... Numa dessas ocasiões, Shogun, me perguntou:
- Meu irmão, está afim e sair da academia?
Havia comentários de que os atletas da Chute Boxe deveriam receber mais pelas bolsas. A transparência era contestada e estava na origem da intenção de Shogun deixar academia. Suas palavras seguintes foram pesadas e lançavam uma sombra sobre a eventual lisura na prestação de contas da Chute Boxe.
No que diz respeito a mim, nunca assinei nenhum contrato. Eles chamavam e me informavam: ‘Anderson, você vai lutar com aquele cara ali, ele tem 200 quilos, e você vai lutar com ele’. Eu dizia: ‘Beleza, pode botar.’ ‘Anderson, rola’. Eu rolava. ‘Anderson, late’. Eu latia...”


“Quando cheguei na academia, fui procurado pelo Ninja, irmão do Shogun:
- Anderson, quero sair da academia
As palavras seguintes foram mais pesadas que a de seu irmão. Elas atingiam a honra de Rudimar.
- Se você sair da academia, vou junto, somos amigos, não vou deixar que você saia sozinho – prometi...
Resolvi deixar a academia. Alguns saíram comigo. Ninja, que eu achava que era meu amigo, e Shogun voltaram atrás. Faltou palavra...”

“Eu estava fora da Chute Boxe...Pedi pra uma amiga minha que traduzisse uma carta que havia escrito para o Pride... Ainda assim a turma da Chute Boxe teria espalhado que eu e outros atletas havíamos sido expulsos e que eu estaria com inveja do Wanderlei. Ao Pride, relataram que o motivo da expulsão teria sido indisciplina. Rudimar teria afirmado que Wanderlei abandonaria a promoção caso eu pisasse lá de novo. Fiquei muito tempo sem lutar. As portas do Pride se fecharam. Quem era Anderson comparado a Wanderlei? Nada.”

“Ao olhar para trás, chego à conclusão de que tudo aconteceu porque umas pessoas queriam ser melhor que as outras. Algumas por insegurança, outras por ganância. Eu duvido que Rudimar encoste a cabeça no travesseiro e durma depois de assistir uma luta minha. Também duvido que Wanderlei também não se arrependa do que fez ou deixou de fazer. Ele poderia ter dito: ‘deixa o cara trabalhar, ele tem família, assim como eu’. Se o Pride ainda estivesse aí, os caras continuariam do jeito que eram.”

“Rafael se mudou para os EUA. Aconteceu com ele o que aconteceu com a gente. Rudimar nem olha mais pra cara dele. Se o Pride ainda existisse, Rafael continuaria a fazer as mesmas coisas, continuaria sem olhar para minha cara
 
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