quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O VALE TUDO DO RIO GRANDE DO NORTE ONDE TUDO COMEÇOU

Aderbal no auge de sua forma
Somente a partir da década de 90 após o fenômeno UFC que os lutadores brasileiros começaram a se tornar referência mundial nas lutas, porém, a tradição do Vale Tudo já é antiga em nosso país.
Grande parcela dessa tradição foi graças as família Gracie. Porém, existiram muitos outros nomes que tiveram também importância fundamental para a sedimentação desse esporte. Muitos desses nomes vieram da região nordeste do Brasil e tiveram suas origens graças ao programa TV Ring Torres, que exibia na década de 60 as lutas de Vale Tudo, na época conhecidas como Luta Livre Americana.
Poderíamos chamar esse período como a “Época de Ouro” do Vale Tudo nordestino e um grande lutador dessa fase foi Aderbal Bezerra. Um dos lutadores mais ativos do Rio Grande do Norte e região nas décadas de 50 e 60, vamos conhecer um pouco mais sobre esse grande lutador.

Marinheiros e Fuzileiros Navais treinando halterofilismo em 1947.
Aderbal Bezerra está na última fila, 1º da direita para esquerda.
Aderbal Bezerra - o Vale Tudo do Rio Grande do Norte
Aderbal Bezerra da Cunha nasceu em 04/10/1929, em Serra Negra do Norte-RN. Caçula de seis irmãos, Aderbal ficou órfão de pai logo após seu nascimento e sua família passou por dificuldades durante sua infância e adolescência.
Aos 17 anos, Aderbal recebe do irmão um convite para se mudar Rio de Janeiro. Logo após sua chegada, alista-se na Marinha e permanece como fuzileiro naval por dois anos. Esse período foi de fundamental importância para a formação do que viria ser o lutador Aderbal, pois na Marinha muitos fuzileiros se dedicavam a prática de Halterofilismo e a prática de Luta Livre.
Logo após sua saída da Marinha em 1948, Aderbal passa a praticar Luta Livre e participar de competições pelo Clube Flamengo do Rio de Janeiro e viaja para diversas cidades sempre conseguindo bons resultados. Em várias cidades que percorreu, Aderbal filiou-se a diversas Federações de Pugilismo. Aderbal era registrado em Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e em Manaus; nesta última cidade residiu por dois anos, onde fundou uma Academia de Luta e Defesa Pessoal.
Em 1953 aconteceu em Natal a primeira luta de Vale Tudo do estado. Aderbal enfrentou Bernardão, que viria a ser seu principal oponente durante muitos anos. A luta foi descrita por Osmar Mozinho de Oliveira “Biuce”, professor pioneiro da época, como caótica: “Foi a maior luta que houve no Estado do Rio Grande do Norte, eram dois homens muito fortes, com muita energia e muito jovens; o ringue tinha sido montado em cima dos tambores de gasolina; no decorrer da luta, o ringue quebrou-se e era tambor por todos os lados, o povo correndo, outros segurando Aderbal para ele não matar Bernardão e este sendo pego também por outras pessoas. Os tambores foram tirados e a luta continuou sem o ringue.”

 
Residindo em Natal, Aderbal conhece Chico Ribeiro que já praticava Jiu Jitsu e passa a aperfeiçoar a técnica de Aderbal ainda mais. Nessa época havia sido fundada a primeira academia de Jiu jitsu de Natal, a Academia França que tinha como instrutor o militar Dupont Saraiva.
 
Aderbal de camisa listrada do Clube ABC
e ao lado esquerdo o patrocinador Nagib Salhas
As Lutas em Natal passaram a se tornar um espetáculo atrativo ao grande público e eram anunciadas nos jornais locais e em carros de som. A popularidade era tanta que até mesmo o prefeito de Natal Alberto Maranhão chegou a praticar a Luta Livre, além de incentivar e promover as lutas. Outro grande incentivador e patrocinador foi o empresário Sírio-Libanês Nagib Salhas, dono da Casa Duas Américas. Nagib nutria grande amizade por Aderbal e foi de extrema importância para o fomento do Vale Tudo na região.
Os espetáculos aconteciam geralmente aos Sábados, as 21:00h e com lutas preliminares antes da principal. Os embates eram seis rounds de cinco minutos por dois de descanso. A vitória era por desistência do oponente ou nocaute. A renda líquida da bilheteria era do vencedor. Caso houvesse empate, a bolsa não era paga e a revanche era marcada já no final da luta.
A partir de 1954 Aderbal participa de diversas lutas com os maiores nomes do Vale Tudo do nordeste e do Brasil. Contemporâneo de lendas como Valdemar Santana, Takeo Yano, Euclides Pereira e Ivan Gomes, Aderbal enfrentou a todos eles, ganhando algumas e perdendo outras, mas sempre mantendo um número de lutas que assustaria a qualquer profissional do MMA moderno.
Por volta de 1955, Aderbal inicia na cidade de Caicó no Rio Grande do Norte a implantação das lutas de Vale Tudo. De personalidade amigável, Aderbal vencia as dificuldades para promover as lutas com a ajuda do primo e amigo José Lucas, na época, funcionário do Banco do Brasil em Caicó. Lucas costumava ajudá-lo buscando patrocinadores usando de sua influência no comércio e, algumas vezes, emprestando dinheiro a Aderbal para a montagem do ringue.
Nomes pouco conhecidos no sudeste, mas que foram de suma importância para o Vale Tudo, foram adversários constantes de Aderbal. Dentre eles podemos citar Touro Novo, Leão do Norte, Fidelão, Gato Selvagem, Teles, Diderot e muitos outros.
As lutas muitas vezes proibiam socos de mão fechada, mas a violência era tamanha que o Vale Tudo sem nenhuma regra era comum. No depoimento de Tarcísio Segundo de Medeiros, morador de Caicó dessa época: “Quando Aderbal voltou a residir em Caicó, no local onde funciona a Rádio Rural AM de Caicó, … houve uma luta extraordinária de Aderbal e Fidelão. Como o local era um pátio aberto, as pessoas pulavam dos prédios vizinhos… e essas pessoas conseguiam entrar de graça, tamanha era a euforia do público. Foi oficialmente publicada como luta livre e no decorrer da luta Fidelão saiu das regras da luta livre passando a praticar o Vale-Tudo, quando Aderbal perguntou em voz alta se a luta era vale-tudo ou luta livre, Fidelão respondeu: é vale-tudo! Aderbal utilizando de sua técnica levantou o lutador adversário jogando-o no ringue, que ficou quebrado, não havendo mais condições para a continuação da luta e o juiz resolveu pôr fim à luta, considerando Aderbal como vencedor do embate.”

Foto raríssima mostrando a 2ª visita de Kimura ao Brasil. Aderbal em pé o primeiro da esquerda para direita. Kimura, sentado, o segundo da esquerda para direita. Takeo Yano, sentado, o quarto da esquerda para direita.


Blog do manoamano








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