sexta-feira, 20 de abril de 2012

UFC NA GLOBO: APOGEU OU FIM DO MMA?

Fabio Quio Takao
Colaboraram: Reyson Gracie, Elton Brasil e Leviston Silva
Desde os primórdios da humanidade, a evolução do homem está intimamente ligada à seleção dos mais aptos aos combates sem armas, seja para conseguir alimentos, disputar territórios, ter prioridade na reprodução, etc. Graças a essa carga genética herdada, mesmo nos dias atuais onde valores intelectuais são prioridade, as lutas ainda exercem um fascínio instintivo no ser humano, mesmo sobre aqueles que se dizem pacifistas convictos.
Com o passar do tempo o ser humano conseguiu canalizar de forma sadia essa necessidade praticando esportes de combate que evoluíram para sistemas mais abrangentes conhecidos como “Artes Marciais”, onde é possível usar a luta corporal como ferramenta para moldar o espírito e o caráter. As emissoras de TV sabem disso e encontraram no MMA a galinha dos ovos de ouro.
Após 18 anos do primeiro UFC ter sido transmitido nos Estados Unidos, finalmente a maior emissora de TV do Brasil se curvou frente ao crescimento exponencial do MMA e transmitiu em canal aberto, ao vivo, a disputa entre os pesos pesados Cain Velasquez e Junior Cigano.
Para muitos fãs, foi o ponto culminante do MMA e o reconhecimento do Brasil como um dos maiores mercados comerciais a serem explorados. Porém, após uma análise mais criteriosa, essa estréia não deve ser considerada um “mar de rosas” e pode esconder uma série de armadilhas que fazem parte do repertório dessa poderosa emissora, que é a maior formadora de opinião do País.
Na matéria a seguir vamos analisar números, estatísticas, interesses e também conhecer a trajetória do Vale Tudo ao MMA na TV brasileira.
Os primeiros Vale-Tudo transmitidos
Contrário ao que o recente público formado pela Rede Globo imagina, o Vale Tudo já foi transmitido pela TV há mais de 50 anos e já era um campeão de audiência. A primeira transmissão de programas de lutas aconteceu em Dezembro de 1950, na extinta Rede Tupi de São Paulo e foi um curso de Jiu Jitsu ministrado por Carlos e Hélio Gracie. Para se ter uma idéia da importância dessa transmissão, a Tupi de São Paulo foi a primeira emissora da América do Sul e quarta do mundo fundada em setembro daquele ano.
E foi no Rio de Janeiro,  em 20 de Janeiro de 1951, que o Vale Tudo teve sua primeira transmissão no Brasil. Na inauguração da TV Tupi Rio de Janeiro, foi exibido um programa onde Carlos e Hélio convidaram cinco estivadores, alguns com mais de 100kg, para enfrentarem cinco alunos da Academia Gracie. O público assistiu atônito os franzinos alunos de Jiu Jitsu derrotarem os adversários num show de técnica.
A audiência era um tanto modesta, considerando que o número de aparelhos de televisão do Rio de Janeiro e São Paulo não passavam de sete mil, a maioria instalada estrategicamente em áreas públicas de grande circulação pelos próprios donos da emissora.
Heróis do Ringue
 A próxima transmissão de lutas Vale Tudo no Brasil ocorreu no Rio de Janeiro, em 1959, e foi veiculada pela TV Continental, no canal 9.  A Continental do Rio de Janeiro entrou no ar em julho e já na primeira semana transmitiu um programa chamado “Esta Noite de Vitória” que mostrava combates de luta livre, judô e boxe direto do Maracanãzinho. Algum tempo depois, Carlos Gracie apresentou o projeto do programa “Heróis do Ringue”.
O programa apresentava seis lutas num ringue de cordas que tinha como principal objetivo reforçar o que Carlos e Hélio Gracie vinham fazendo a vida toda: comprovar a eficácia do Jiu Jitsu perante as outras artes marciais. O programa ia ao ar toda segunda-feira, às 20:30, e consagrou nomes como João Alberto Barreto e Hélio Vígio. 

Reyson Gracie(1º a esquerda) como técnico do Fuzileiro Naval Paulo Borges 
Segundo o Mestre Reyson Gracie, que atuava como técnico de vários lutadores, a TV Continental lançou o Heróis do Ringue para concorrer com o programa Noite de Gala da Tupi, que passou para o segundo lugar de audiência, criando enorme reação na emissora concorrente.
A partir de então, a Tupi passou a criticar o programa acusado-o de "introduzir a violência e a selvageria nos lares”. Era a primeira manobra para tirar o programa do ar. E como não foi possível de imediato, devido ao sucesso do programa, o canal usou de sua influência na imprensa e meio político exercendo pressão para que houvesse modificação nas regras para minimizar a violência, descaracterizando a luta como um combate real.
O fato era que algumas lutas terminavam de forma violenta e por vezes com atletas ensanguentados e foi justamente por isso que a audiência mostraria um paradoxo que se repetiria com freqüência mais tarde. Mesmo repudiando a suposta violência, os críticos não se limitavam a usar a liberdade de escolha trocando o canal, e encontraram na proibição a forma de acabar com o incômodo.
O golpe de misericórdia viria com uma luta em que João Alberto Barreto aplicou uma chave “Kimura” quebrando o braço de José Geraldo que se recusara a bater. E após dois anos de muito sucesso e polêmica, a chocante cena foi transmitida ao vivo e selou o final do programa.
Os números de audiência do Vale Tudo no Rio de Janeiro, ainda capital federal  naquela época, com seus pouco mais de três milhões de habitantes, começavam a se tornar relevantes.
Em 1999, o programa Heróis do Ringue voltaria a ser transmitido durante um ano pela CNT, sob o comando de Robson Gracie, apresentava lutas e promovia debates.
TV Ringue Torre           
O nordeste do Brasil foi um importante pólo de desenvolvimento do Vale Tudo e o reflexo disso foi a transmissão do lendário programa TV Ringue Torre. A criação do programa foi uma bem sucedida campanha publicitária de uma agência de Recife chamada Abaeté Propaganda.



Euclides Pereira (direita) e Valdo Santana(esq.) no TV Ringue Torre
A agência, atenta ao interesse que a modalidade despertava no início da década de 60, alugou um horário na TV Jornal do Commercio e idealizou o programa com lutas de Vale Tudo usando o nome de seu cliente, a Cotonifício da Torre. A fábrica de beneficiamento de algodão ficava no bairro Torre de Recife e tinha como funcionário da segurança ninguém menos que Euclides Pereira, que viria a lutar no programa e se tornar um dos maiores lutadores do Brasil.
O programa era transmitido para várias cidades do estado de Pernambuco e Paraíba às segundas-feiras à noite e atraia multidões às praças públicas onde eram instaladas as televisões. 



De costas, Jairo Moura com roupão do TV Ringue Torre
Foi no TV Ringue Torre que foram criados os primeiros ídolos locais como o próprio Euclides Pereira, Ivan Gomes, Jairo Moura, Fidelão, irmãos Tairovich, Aderbal Bezerra, entre outros.
O programa durou aproximadamente seis anos e teve o mérito incontestável de fomentar o Vale Tudo, até então praticado somente no Rio de Janeiro pela família Gracie.
O primeiro Vale Tudo na Globo
De fato, a maior emissora do País já transmitiu uma luta de Vale Tudo em cadeia nacional. Em 1984, as academias de Muay Thai e Luta Livre se uniram contra os praticantes de Jiu Jitsu em um evento épico. Após esse desafio, a animosidade entre os praticantes só fez aumentar e culminou com a idealização de um novo desafio em 1991.
Após a matéria em um jornal carioca, em que Wallid Ismail desafiava qualquer lutador, Carlson Gracie achou que o melhor seria promover algo bem organizado e encontrou apoio de Miguel Pires Gonçalves, que além de entusiasta das lutas, era superintendente da Rede Globo.
Além da transmissão, Miguel Pires forneceu toda infraestrutura necessária e o desafio aconteceu no bairro carioca do Grajaú. As lutas foram Wallid Ismail contra Eugênio Tadeu, Murilo Bustamante contra Marcelo Mendes e Fabio Gurgel contra Denílson Maia e os representantes do Jiu Jitsu venceram todas as lutas.
Os lutadores de Vale Tudo abriram concessões para não chocar o público da emissora. As lutas teriam dois rounds de 15 minutos cada e não seriam permitidos chutes com o oponente no chão. Mas a principal medida para tentar “dosar” a violência seria a proibição de socos de mão fechada. É bom lembrar que em 1991 os lutadores ainda não usavam luvas.



Murilo Bustamante (dir.) contra Marcelo Mendes
O que a emissora não sabia era do clima de guerra que havia entre as duas modalidades e já na primeira luta as regras foram simplesmente ignoradas. E apesar da violência de algumas lutas, com direito a muito sangue sendo exibido, o resultado do evento fez com que as academias de Jiu Jitsu lotassem com novos alunos. Mesmo com as derrotas, a Luta Livre também provou que seus praticantes eram adversários técnicos e com excelente preparo.
O fim do namoro Globo x Vale Tudo
A partir de 1994 os grandes eventos de Vale Tudo como UFC e Pride começavam a tomar vulto e mostrar paras grandes emissoras que esse novo fenômeno do Pay Per View americano e japonês poderia render bons dividendos até mesmo entre o público “leigo” da TV aberta.
Em 1997 aconteceria no Rio de Janeiro mais um capítulo da guerra entre o Jiu Jitsu e a Luta Livre: o Pentagon Combat. Organizado por Nelson Monteiro, o evento contou com o milionário apoio do Sheik de Abu Dabhi, Tahnoon Bin Zayed, que futuramente organizaria o maior evento de grapplers do planeta: o ADCC.
Apesar de não ter sido transmitido pela Rede Globo, o evento teve consequências decisivas para o futuro do Vale Tudo na emissora. O card teve como luta principal Renzo Gracie contra Eugênio Tadeu e prometia novamente uma grande tensão entre as modalidades rivais.  
Apesar da excelente estrutura e polpudas bolsas para os lutadores, a organização não planejou um aparato de segurança muito rígido. Na luta principal, torcedores se aglomeraram em torno do ringue causando um tumulto que culminou com arruaceiros agredindo Renzo Gracie durante o combate.
Revoltado, Renzo se levantou e se recusou a continuar a luta naquelas condições gerando uma briga generalizada entre os torcedores. O ginásio ficou repleto de cadeiras plásticas sendo arremessadas e somente depois de todas as luzes apagadas e da presença da polícia é que o tumulto foi controlado. O saldo negativo do evento: a luta interrompida, o ginásio parcialmente destruído e um prato cheio para imprensa que relacionou os praticantes de artes marciais a um comportamento agressivo e delinquente.



Renzo Gracie contra Eugênio Tadeu no Pentagon Combat
A prefeitura e o governo do estado, diante da repulsa criada nos eleitores, optou pela proibição de eventos de Vale Tudo no Estado e com isso o flerte da Rede Globo com o Vale Tudo teria a primeira interrupção.
1º UFC no Brasil
Fato que poucos sabem é que em 1998, portanto 13 anos antes do UFC Rio, o Brasil já havia sediado em São Paulo o UFC Brazil. O evento que ainda era controlado pela SEG, passava por grandes dificuldades nos Estados Unidos, pois sofria ameaças de políticos querendo a proibição do evento em todo o país. A organização entrou em contato com o idealizador do IVC, Sérgio Batarelli, e conseguiu realizar um evento que contou com brasileiros como Pedro Rizzo, Wanderlei Silva e Vitor Belfort. De forma discreta a Rede Globo participou do evento, pois foi responsável pela transmissão do sinal para os Estados Unidos através da GloboSat. 



Cartaz de divulgação do UFC Brazil
Apesar do grande sucesso do evento, com direito a boa cobertura da imprensa especializada, não houve transmissão para o Brasil.
Naquela época os canais por assinatura e VHS lançados já mostravam que não seriam suficientes para atender uma demanda cada vez maior de público. Frente a essa realidade a Rede Globo, apesar de não transmitir mais eventos, se aproveitou da nova febre e abordou o tema na novela “O Clone”, de 2001, mostrando um núcleo de lutadores, inclusive com a participação de Vitor Belfort. Novamente em 2004, na Novela “Da Cor do Pecado”, foi mostrada uma família de lutadores parodiando a família Gracie.
SBT e Band também tentaram
O canal do apresentador Sílvio Santos também apostou em transmissões de MMA. O “Patrão”, como é chamado por alguns funcionários, é famoso por alterar horários de programas em cima da hora e retirar do ar atrações que não dão retorno imediato.
Com o MMA não seria diferente. Para competir com o então Big Brother da Globo, o programa proposto foi a Casa dos Artistas, reality show com “quase” famosos que contou com a presença de Vitor Belfort, em 2002. Graças à nefasta febre dos reality shows que assolava o mundo, Vitor percebeu a oportunidade e convenceu Sílvio Santos a transmitir sua luta contra Chuck Liddel.
A luta teve excelente divulgação, mas para a infelicidade dos brasileiros, Vitor foi derrotado. Da mesma maneira efêmera que começara, terminava o interesse do SBT no MMA, apesar dos 14 pontos registrados (cada ponto corresponde a 58 mil domicílios na grande São Paulo).
A Band também chegou a transmitir o extinto IVC de Sérgio Batarelli que acontecia no Maksoud Plaza, em São Paulo, mas também não deu continuidade apesar dos bons resultados conseguidos.
A RedeTV cria uma nova geração
Parecia impossível que no país onde nasceu o MMA ainda não existisse nenhum programa especializado em TV aberta. E foi para abocanhar esse inexplorado nicho de mercado que em junho de 2009 a RedeTV criou o programa “UFC Sem Limites”.
O programa inicialmente ocupava horários após a meia-noite e apresentava lutas de UFCs passados. Com seu exponencial sucesso, aos poucos foram sendo incluídos eventos mais recentes e entrevistas com lutadores brasileiros.
Os antigos fãs do Vale Tudo assistiram ao nascimento repentino de milhões de novos expectadores do MMA que passaram a acompanhar o evento e adotaram novos bordões usados pelos apresentadores da RedeTV Fernando Navarro e Eduardo Grimaldi. 



UFC na Redetv: recorde de audiência
O pico de audiência da RedeTV se deu em 27 de Agosto de 2011, com a transmissão do primeiro UFC no Brasil ao vivo em TV aberta, o UFC ‘Rio’ 134. O evento foi responsável pela maior audiência do canal até então. A RedeTV estava habituada a ocupar o terceiro lugar nas noites de sábado com 2 pontos no Ibope, atrás da Record com 10 pontos e Globo com 20 pontos. Na noite do evento, o canal começou marcando 9 pontos e durante a luta principal entre Anderson Silva e Yushin Okami, chegou a bater 13 pontos.
O que era óbvio, agora se traduzia em números de audiência, e fez com que a Rede Globo finalmente tomasse uma atitude e incluísse o MMA em sua grade de programação.
O MMA “Globalizado”
O dia 12 de Novembro de 2011 será marcado pela história do esporte com uma data de superlativos. O esporte que mais cresce no mundo seria transmitido pela Fox e pela Rede Globo, respectivamente as maiores emissoras dos Estados Unidos e do Brasil.
A emissora brasileira usou todo seu costumeiro arsenal de propaganda anunciando a disputa do cinturão dos pesados entre Junior dos Santos e Cain Velasquez. O resultado foi extremamente positivo fazendo com que o Ibope alcançasse 20 pontos à meia-noite, horário que normalmente atinge resultados menos expressivos.
Com picos de 52% de share (número de televisores ligados sintonizados no canal) a emissora também conseguiu superar o futebol. Na tarde do domingo, a Globo televisionou Palmeiras e Grêmio e teve apenas 15 pontos de audiência com 30% de share. Na prática, segundo os números mais conservadores, foram 22 milhões de expectadores assistindo o combate. Depois de muitas idas e vindas, finalmente a Rede Globo abraçava o fenômeno MMA.



Neymar, Galvão Bueno e Anderson Silva: tentativa de trazer o público do futebol para o MMA (reprodução)
Milhões de brasileiros das mais remotas localidades puderam assistir aos dois atletas mais respeitados em um combate empolgante e que para felicidade da emissora se decidiu de forma rápida com nocaute a favor do brasileiro. Foi um começo pra lá de promissor.
Para todos os lutadores e profissionais envolvidos no universo das lutas, o reconhecimento da Globo melhora as condições substancialmente, trazendo volumosos investimentos, dando oportunidades a diversos profissionais diretos e indiretos que atuavam até então de forma quase marginalizada.
Lutadores de MMA passaram, em um piscar de olhos, mais precisamente nos 64 segundos necessários para Cigano nocautear Velasquez, de brutamontes a potenciais atletas cuja profissão passou a ser tão almejada quanto a de jogadores de futebol.
Outra grande novidade para os brasileiros é a realização do primeiro The Ultimate Fighter no Brasil. O TUF, como é conhecido nos Estados Unidos, é um reality show que mostra o treinamento de times formados por aspirantes treinados por campeões do UFC. O programa começou no dia 25 de março e terminara em 16 de junho, com direito a final no estádio Engenhã, no Rio de Janeiro. O pacote adquirido pela Globo prevê sete eventos com três apresentações fora do Brasil e terá boletins diários e compactos com melhores momentos da semana aos Domingos e custou aos patrocinadores 40 milhões de reais.
Os treinadores são Vitor Belfort e Wanderlei Silva e os trinta e dois lutadores brasileiros concorrem à chance de assinar um contrato com o UFC. Para se ter uma idéia da importância do reality, nomes como Forest Griffin, Rashad Evans e Roy Nelson foram revelados no TUF.
Agora o universo das oportunidades e possibilidades beira ao infinito, como a fomentação do turismo, vendas de roupas e assessórios de lutas, novos centros de treinamentos e muitas alternativas que irão melhorar a vida de nosso país que sempre foi reconhecido mundialmente como usina de talentos no MMA.
Os efeitos colaterais
Apesar das transmissões na Rede Globo trazerem muitos benefícios para o esporte, a história nos mostra que é preciso tomar algumas precauções e a escalada do MMA em direção ao cume pode esconder algumas armadilhas.
Monopolizando por muitas décadas a liderança na audiência, a Rede Globo sempre adotou algumas estratégias agressivas que por vezes beirava o antiético. Nesse primeiro momento sabemos que os eventos transmitidos não sofrerão interferência da Rede Globo, mas não é impossível que no futuro as decisões de Dana White e Cia possam vir a sofrer influência de interesses da terceira maior emissora do planeta.
A necessidade de resultados imediatos na audiência podem por um lado transformar anônimos em celebridades nacionais do dia para noite, mas também cria um abismo entre os iniciantes amadores e os ídolos com supersalários. Como acontece com outras modalidades, a emissora limita-se a colher os frutos das vitórias dos brasileiros, mas não apóia instituições e ONGs que revelam os talentos das categorias de base e atletas de baixa renda.



Wanderlei Silva divulgando o TUF Brasil
Outra questão negativa pode ser a “pasteurização” do MMA com o objetivo de aumentar a aceitação de um público mais amplo e pouco familiarizado com o esporte. Eventos como o TUF aproximam perigosamente o MMA das realidades manipuladas dos reality shows, onde o empenho no treinamento e os resultados das lutas podem vir a perder espaço para um desfile de corpos sarados e atitudes pouco nobres a fim de alcançar a vitória.
Um aspecto que a emissora deveria melhorar a curto prazo é a preparação de comentaristas, narradores e jornalistas, já que a atual equipe não tem nenhuma experiência com o assunto. Alguns profissionais dos canais pagos com certeza se sairiam muito melhor.
A polêmica escolha de Galvão Bueno como narrador com certeza foi estratégia para atrair novos aficionados, mas também gerou enorme rejeição entre os fãs mais antigos que dificilmente irão aceitar os bordões caricatos, repetidos a todo momento, para tentar compensar a falta de conhecimento técnico.
No UFC Rio 2, o card recheado de brasileiros mais uma vez foi suprimido e somente duas lutas foram transmitidas. Apesar da compactação do evento, os pontos positivos foram para a excelente atuação dos atletas e para a sonora manifestação de desaprovação do público do HSBC assim que Galvão começou sua participação.
A presença do jogador de futebol Neymar ao lado de Anderson Silva foi uma clara tentativa de vincular o futebol ao MMA, o que é no mínimo temeroso se levarmos em conta a rivalidade violenta que a maioria das torcidas de futebol fomentam.
A contínua ascensão do MMA nos Estados Unidos é importante para o Brasil, pois os resultados na terra do Tio Sam balizam a maioria das decisões da Rede Globo. Fatos imprevisíveis podem mudar o rumo do esporte na emissora, por isso é importante que os atletas e todos os profissionais envolvidos nesse grande negócio possam analisar os erros passados e tomar boas decisões para aproveitar esse momento de crescimento histórico pelo qual passa o MMA.
Cabe aos fãs torcer para que toda essa evolução traga bons frutos e faça com que o esporte criado por Carlos e Hélio Gracie mantenha sua essência e continue apontando quem são os melhores lutadores do mundo.  
Fabio Quio é jornalista, pesquisador da História das Artes Marciais Mistas e Colaborador do blog Mano a Mano
Blog Mano a Mano

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