sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

ENTREVISTA COM O CHEFÃO DO UFC


Em entrevista exclusiva em seu escritório, dirigente revela que proibirá associação de lutadores com o futebol se houver violência nas arenas

Por Marcelo Russio
Direto de Las Vegas, EUA

O prédio não tem nenhuma identificação que permita quem passa por ele imaginar que ali funciona o quartel-general da maior organização de MMA do mundo. A fachada discreta e elegante do prédio, em uma avenida afastada do centro de Las Vegas, esconde o centro nervoso do UFC, onde são tomadas as decisões relativas a lugares onde acontecerão as edições do evento, seus participantes, contratações e demissões de lutadores. No centro de tudo, está o presidente da empresa que, hoje é avaliada em mais de US$ 2 bilhões: Dana White.

O principal dirigente esportivo da área de lutas no planeta recebeu o SporTV.com em seu escritório nesta quinta-feira para uma entrevista exclusiva. A orientação era simples: não poderá durar mais que 15 minutos, pois Dana, como se pode imaginar, é muito ocupado e tem mais problemas para resolver por dia do que pode dar conta. Ele chega após um atraso de cerca de 45 minutos, e entra por uma porta privativa, sem passar pela recepção do prédio. Lá, entre quadros de luta e três monitores sintonizados em canais especializados em MMA, e cercada por uma decoração bonita e sofisticada, apenas uma recepcionista coordena quem chega e quem sai.

Convidada a subir ao segundo andar do prédio, a reportagem do SporTV.com passa por mais pôsteres, um mural com uma quantidade imensa de fotos de lutadores antes e depois de suas lutas, e pinturas de de arte, cujo valor ultrapassa a casa dos US$ 20 mil (cerca de R$ 35 mil). Ao chegar à segunda recepção do prédio, uma secretária pede alguns minutos, para que Dana White responda alguns e-mails. Enquanto é aguardado, o chefe do UFC passa pela sala com cara de poucos amigos, conversando com uma assessora.

- Parece que hoje vai ser um daqueles dias... - diz, enquanto atravessa o longo corredor. Vestido com calça jeans, agasalho e tênis, Dana não segue o figurino engravatado de outros dirigentes esportivos americanos. Despojado, ele mantém o estilo durante as entrevistas e conferências das quais participa.

Ao voltar para a sua sala, Dana White é avisado de que tem uma entrevista marcada com um site brasileiro, e imediatamente faz o convite para que a entrevista seja feita enquanto ele almoça, pedindo para ser acompanhado enquanto come.
- Não gosto de comer sozinho, embora isso aconteça com alguma frequência.

Simpático e alheio a todo o glamour que o cerca, como uma cozinha comandada por um chef e dois ajudantes, ele ordena que seja oferecido o que houver. Bebida e cardápio liberados pelo chefe do UFC. Degustando sua salada, e depois almoçando em seu escritório, White conversou por cerca de 30 minutos com o SporTV.com, atrasando sua saída para a coletiva oficial do UFC 143, e cancelando uma entrevista agendada com uma equipe do México. Direto e sem desperdiçar tempo e palavras, o cartola não fugiu de qualquer pergunta, e deu suas opiniões, algumas contundentes, sobre todos os assuntos.
Confira abaixo a entrevista com Dana White.

Rotina de presidente do UFC

"Cada vez que eu entro aqui, tenho que lidar com uma quantidade enorme de problemas, que ninguém faz a menor ideia de quais sejam. São só problemas. Quando acordo, pela manhã, os problemas descem pelas paredes. Nada acontece como o planejado. Temos 375 seres humanos sob contrato, e cada um deles tem seus problemas. Nós temos os nossos, e ainda temos que gerenciar uma empresa de promoção de lutas. Em uma reunião de executivos, há as metas que temos que alcançar. Tudo é planejado de um jeito, mas na medida em que o tempo passa, as coisas tomam rumos totalmente diferentes. Ao invés de a cada dia caminharmos para cumprir os objetivos traçados, nós vamos em direção a outras coisas. As pessoas dizem que eu tenho o emprego dos sonhos. E eu sou o primeiro a dizer que amo o meu trabalho, mas isso aqui está longe de ser o emprego dos sonhos."

Expectativa para o TUF Brasil

"Acredito que agora, e pelos próximos 20 anos, todos os grandes talentos do MMA virão do Brasil. E agora, que estamos mais em evidência do que nunca, a quantidade de talento que virá à tona no Brasil nos próximos sete anos, e falo em sete anos porque o plano aqui nos EUA é feito pensando-se em um espaço de sete anos, como no Brasil, será fenomenal. Sobre o torneio, acho que será verdadeiramente espetacular, como acontece há anos nos EUA. E ainda estamos trabalhando no local, não está decidido ainda."
Copa do Mundo de MMA

"O Brasil é o primeiro passo para globalizarmos o reality show "The Ultimate Fighter". Os próximos são Índia, Austrália e Inglaterra. Temos falado sobre as Filipinas também. Assim que consolidarmos o modelo no Brasil, ele pode funcionar em qualquer outro lugar. A partir daí, é apenas uma questão de executar e fazer."

MMA como segundo esporte no Brasil

"Eu nunca tive dúvida, e continuo acreditando, que o MMA será o primeiro esporte não do Brasil apenas, mas do mundo, porque todos amam lutas. E as pessoas que nunca viram um show de MMA ao vivo, ou na TV, não sabem como é empolgante e como é divertido. Por isso, eu acredito que a tendência é que o esporte fique cada vez maior."

Números do UFC no Brasil

"São fenomenais, definitivamente. Eu jamais tive expectativas sobre como as coisas aconteceriam por lá. Mas se eu tivesse, elas teriam sido superadas com certeza."

Outras cidades no Brasil que possam receber o UFC

"Nós queremos levar o UFC para todos os lugares possíveis. Rio de Janeiro e São Paulo são as duas primeiras cidades brasileiras, mas conversamos com algumas outras. A mais próxima, hoje, é Manaus. Pelo que eu ouvi, se houver um UFC lá, será tão empolgante, e um sucesso tão grande quanto foi no Rio. Mas em 2012 o último será em São Paulo."

Segurança de Chael Sonnen no Brasil

"Existe aqui uma percepção errada sobre o Brasil. Muita gente acha que se você ele, ou algum outro, for ao Brasil, pode morrer ou algo assim. Eu já estive no Brasil dezenas de vezes, e posso dizer que é um lugar incrível. Não existe nenhuma sensação de insegurança por lá. E eu acho que muita gente por lá gosta de Chael Sonnen. Assim como haverá sempre quem não goste dele também."

Grand Slams do UFC

"Nossos maiores eventos hoje são os que acontecem no fim de semana do Superbowl, na véspera do ano novo e no dia da independência dos EUA. Temos que aproveitar essas datas, mas, sim, já imaginamos transformar alguns torneios em uma espécie de torneios do Grand Slam do tênis, com maiores bolsas e dando aos vencedores a chance de disputar títulos. A diferença para o tênis é que no mundo da luta, os atletas podem se lesionar, muitas coisas podem acontecer e prejudicar uma programação."

Fim do Strikeforce

"Vou ser direto sobre isso. O Strikeforce não acabará neste ano, e nem no próximo."

Fedor contra o campeão do GP dos pesados do Strikeforce

"Boa sorte para Scott Coker - CEO do Strikeforce - se quiser fazer uma luta dessas. Eu não poderia me importar menos com isso. A verdade é que ele terá muito trabalho, porque Fedor é um dos lutadores mais complicados para se fechar um contrato. Eu trabalho com muita gente, e venho lidando com todo tipo de lutadores e empresários há mais de dez anos, de Brock Lesnar a Tito Ortiz, e nenhum deles, em termos de dificuldade de negociação, chegou perto de Fedor Emelianenko."

Luta entre Griffin e Tito Ortiz

"Eles querem lutar um contra o outro, então, por que não? Adoro quando os lutadores querem lutar um contra o outro. São as melhores lutas, porque há rivalidade, e o esporte, qualquer um, é construído em cima de haver rivalidade entre os oponentes."

Associação do futebol a lutadores

"Falam muita coisa, que pode ser ruim. Mas se isso não trouxer um aspecto negativo às lutas, eu não me importo. O que eu posso dizer é que, se a violência das torcidas de futebol for trazida para o UFC, eu acabo com essa associação imediatamente."

José Aldo correndo para a torcida no UFC Rio

"Na hora foi muito legal, mas eu não o encorajaria a fazer isso de novo. Ele, ou algum torcedor, poderiam ter se machucado. Felizmente ninguém morreu. Eu, nem ninguém, esperávamos que ele fosse fazer aquilo. Já me perguntaram se houve alguma multa para ele, e a resposta é não. Mas não gostaria que acontecesse novamente."

Lutador mais dominante no futuro

"Na minha opinião, Jon Jones. O que ele fez no último ano foi fantástico. Lutou contra quatro dos mais duros lutadores do mundo em sua categoria, e venceu a todos de forma incontestável. Mas hoje, o nome é Anderson Silva. Ele nunca perdeu no UFC, e está aqui desde 2006, lutando três vezes por ano. O que ele conseguiu é incrível. Ele ainda tem quatro lutas, se não me engano, por contrato. E, não, ainda não conversamos sobre a renovação."

UFC 143

"O fim de semana do Superbowl é sempre interessante em Las Vegas, cheio de atrações. Poder realizar um evento como esse nessa data é fantástico. Sobre as lutas, espero que seja uma guerra entre Diaz e Condit. Eles têm estilos que combinam muito bem, e acredito que será uma luta muito interessante e divertida para os nossos fãs."

Opinião sobre Nick Diaz

"Nós estamos fazendo um programa esse ano chamado 'Primetime', e Nick Diaz vinha bem, mas já começou a fazer suas loucuras. Na medida em que vamos chegando perto das lutas, ele vai ficando menos estável. Não sei o que esperar dele. O último episódio mostrou o quanto ele odeia assessores de imprensa. Em uma determinada hora do programa, alguém falou sobre o Superbowl, e ele perguntou que times fariam a final. Diaz é assim. Seja bem vindo ao meu mundo (risos). A verdade é que a luta contra BJ Penn o colocou em outro nível de popularidade. Agora, contra Condit, nós vamos ver se essa popularidade se reverte em vendas de pacotes de pay-per-view. Se ele vender, a luta contra Georges St. Pierre será sensacional.

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