A sérvia Dusica Yankovich, mais conhecida como Duda, teve a
oportunidade de conquistar o cinturão peso-ligeiro feminino da
Organização Mundial de Boxe (WBO, na sigla em inglês) em março deste
ano. Por decisão dos jurados, acabou derrotada. Inconformada até hoje
com o resultado, ela acredita ter sido roubada e reclama de uma suposta
manipulação a favor da colombiana Enis Pacheco, que atuava em casa na
ocasião. A decepção com o episódio foi o incentivo que faltava para que
ela seguisse o caminho de muitos outros e ingressasse no MMA, esporte no
qual fará sua estreia neste sábado, no evento Bitetti Combat, diante de
Jéssica Andrade. Mesmo assim, Duda não vai abandonar as origens, como
disse em entrevista ao SPORTV.COM.
- Mantenho a minha carreira de boxeadora profissional. Se me oferecerem
uma luta, eu vou aceitar na hora. Mas em março tive a felicidade e a
infelicidade de disputar um título mundial na Colômbia. Foi uma luta
limpa e eu ganhei. Houve inúmeras coisas erradas, várias manipulações, e
eu ganhei mesmo assim, mas fui roubada. Foi uma coisa ridícula. Aí todo
mundo diz que o MMA acabou com o boxe. Não! O boxe acabou com o boxe.
Eu assino embaixo. Esse tipo de coisa, manipulação, lutas armadas, faz
com as pessoas abandonem o boxe. Eu não acho, eu fui roubada, isso é um
fato. Você não ganha a luta em um país estrangeiro se não for por
nocaute. Os juízes foram todos locais, o que é errado em uma disputa de
título mundial. E a luta foi programada para ter 12 rounds, mas cortaram
na hora para 10 rounds. Isso é fato, não é minha opinião - afirmou.
A ideia de tentar a sorte no MMA já fazia parte dos pensamentos de Duda
há algum tempo. A boxeadora pôde acompanhar a grande e rápida evolução
da modalidade e enxergou nisso a chance de atrair patrocinadores e mais
atenção da mídia:
- Em primeiro lugar, a mídia e os patrocínios. O boxe era um esporte em
que se ganhava muito dinheiro, mas as bolsas eram altas só para algumas
categorias no mundo profissional. O MMA percorreu um longo caminho e
hoje é uma profissão, uma coisa que nenhum outro esporte conseguiu dessa
maneira. Existe um grande acompanhamento de mídia, de patrocinadores e
bastante inventimento. As competições, como o UFC e o Strikeforce,
viraram espetáculos mundialmente acompanhados e se comparam no Brasil só
a uma Copa do Mundo de futebol. O MMA é algo diferente, algo em que as
pessoas investem, e isso fez a gente migrar. Não sou a primeira e nem
serei a última.
Duda Yankovich perdeu para Enis Pacheco em
março de 2012, pelo título da WBO (Foto: Reuters)
março de 2012, pelo título da WBO (Foto: Reuters)
Os patrocínios, por sinal, estão em falta para Duda Yankovich. Ela
conta com algumas parcerias e ganha alimentos de suplementação, protetor
bucal, roupas, equipamentos de treino, além de fazer preparação física,
fisioterapia e acupuntura. Mas falta a ajuda em dinheiro. Por isso, ela
se sustenta com outras atividades, o que a distanciou do "mundo
perfeito".
- Vou deixar claro que sou uma ótima profissional, mas adoraria não
precisar trabalhar no momento. Faço isso pela falta de patrocínio em
dinheiro e a necessidade de pagar as contas. Sou formada em Educação
Física, trabalho como professora de boxe de uma academia e como
professora de "Ladies Camp", uma atividade física nova para mulheres. E
dou aula particular. Dou aula de boxe para um cadeirante, o Rafael
França. Gosto de coisas diferentes, de pessoas que se dedicam. Gosto de
trabalhar, mas eu queria treinar mais e trabalhar menos. Infelizmente,
só no mundo perfeito.
Nascida na cidade de Jagodina, na Sérvia, Duda quer se naturalizar
brasileira. Mas a vontade dela não é o suficiente neste caso. A lutadora
diz que precisaria ser casada com um brasileiro ou ter um filho nascido
aqui. E ela não tem nenhum dos dois, apesar de morar junto do lutador
de MMA da equipe XGym Douglas Moura, com quem mantém um relacionamento
sério.
- Já estou em processo de naturalização. Você não deve questionar isso a
mim, deve questionar isso ao governo. No Brasil, só demora mais tempo
para quem quer ser regular. Não é uma coisa tão fácil de ser feita, não é
uma opção. Se eu quero? Eu quero. Mas se você não tiver filho
brasileiro ou casamento com brasileiro, não te traz nada. É um processo
lento, burocrático, e não depende de mim. Mas eu me considero uma
brasileira, tanto que eu luto pelo Brasil, e não pela Sérvia. Isso já é o
suficiente.
A primeira visita de Duda ao Brasil ocorreu em 1998, mas foi uma viagem
de apenas um mês. Em 2000, voltou para ficar mais três meses e acabou
morando definitivamente por aqui. Na época, a antiga Iugoslávia se
recuperava dos estragos causados pela Guerra de Kosovo, conflito entre
forças de segurança sérvias e o Exército de Libertação de Kosovo,
província que buscava a independência daquele país.
Só lutadores de MMA: com a amiga Ana Maria India e o namorado Douglas Moura (Foto: Reprodução / Twitter)
- A grande pergunta é se eu fugi da guerra. Não. Depois da guerra, eu
era atleta da seleção sérvia de kickboxing. Viajava, treinava... E com a
guerra tudo parou. O governo de lá não tinha mais dinheiro para
investir nas academias por estar recuperando o país. Eu tinha 21, 22
anos, e não queria parar. Como eu já tinha vindo ao Brasil (em 1998),
reativei alguns contatos e vim para passar três meses. Estou completando
meu 13º ano.
Atualmente Duda mora no Rio de Janeiro e treinava na XGym, mas se mudou
para a Team Nogueira por considerar o trabalho mais técnico. Os ídolos
dela? Os irmãos Nogueira, Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro, que
administram a academia no Recreio dos Bandeirantes.
Entre os ídolos Rogério Minotouro (E) e Rodrigo
Minotauro (D) (Foto: Reprodução / Twitter)
Minotauro (D) (Foto: Reprodução / Twitter)
- Eu os conheço há mais de dez anos. São lendas vivas, guerreiros,
exemplos de superação. Hoje tudo é mais fácil no MMA por causa deles.
Eles foram pioneiros em absolutamente tudo. Quando ninguém dava nada,
quando ninguém aceitava fazer umas lutas loucas, eles faziam. Os
projetos sociais eles começaram a fazer quando ninguém fazia. Sou
agradecida por ter essa oportunidade de estar aqui.
Desde de que botou na cabeça que iria experimentar novos ares, a sérvia
passou a treinar jiu-jítsu e wrestling. Apesar de ser experiente no
boxe - tem 15 lutas, com 11 vitórias e quatro derrotas e títulos como o
da Associação Internacional de Boxe Feminino em 2006 -, ela mostrou
humildade por ser estreante no MMA:
- Posso ter a experiência que for no mundo do boxe, mas continuo sendo
estreante no MMA. As pessoas confundem isso. A pressão é sempre maior em
cima de mim por já ter essa experiência, só que não é a mesma coisa.
Aos 35 anos, Duda mantém os pés no chão sobre seu futuro. Com
consciência de quem já não está no início da carreira, apesar de estar
ingressando no MMA só agora, ela cogitou ficar na ativa por mais uns
três anos:
- Não tenho muito mais tempo de carreira competitiva. Isso é claro e
óbvio, já sou veterana. Mas o tempo que eu tiver, um, dois ou três anos a
mais, vou fazer o máximo possível. Mas não vai depender só de mim.
Depende da academia, da assessoria da academia. Vamos analisar o que for
bom. Não tenho que pensar em me aposentar. Só sei que hoje, com 35
anos, sou melhor do era com 20.
Quem quiser assistir à estreia de Duda Yankovich no MMA, contra Jéssica Andrade, poderá acompanhar o Bitetti Combat 12 no canal Combate, na noite deste sábado. A transmissão do evento está programada para ter início às 20h45m (horário de Brasília).
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