quinta-feira, 6 de setembro de 2012

DUDA YANKOVICH TROCA BOXE PELO MMA

A sérvia Dusica Yankovich, mais conhecida como Duda, teve a oportunidade de conquistar o cinturão peso-ligeiro feminino da Organização Mundial de Boxe (WBO, na sigla em inglês) em março deste ano. Por decisão dos jurados, acabou derrotada. Inconformada até hoje com o resultado, ela acredita ter sido roubada e reclama de uma suposta manipulação a favor da colombiana Enis Pacheco, que atuava em casa na ocasião. A decepção com o episódio foi o incentivo que faltava para que ela seguisse o caminho de muitos outros e ingressasse no MMA, esporte no qual fará sua estreia neste sábado, no evento Bitetti Combat, diante de Jéssica Andrade. Mesmo assim, Duda não vai abandonar as origens, como disse em entrevista ao SPORTV.COM.
O boxe acabou com o boxe. Eu assino embaixo. Esse tipo de coisa, manipulação, lutas armadas, faz com as pessoas abandonem o boxe. Eu não acho, eu fui roubada, isso é um fato"
Duda, sobre derrota para colombiana em março
- Mantenho a minha carreira de boxeadora profissional. Se me oferecerem uma luta, eu vou aceitar na hora. Mas em março tive a felicidade e a infelicidade de disputar um título mundial na Colômbia. Foi uma luta limpa e eu ganhei. Houve inúmeras coisas erradas, várias manipulações, e eu ganhei mesmo assim, mas fui roubada. Foi uma coisa ridícula. Aí todo mundo diz que o MMA acabou com o boxe. Não! O boxe acabou com o boxe. Eu assino embaixo. Esse tipo de coisa, manipulação, lutas armadas, faz com as pessoas abandonem o boxe. Eu não acho, eu fui roubada, isso é um fato. Você não ganha a luta em um país estrangeiro se não for por nocaute. Os juízes foram todos locais, o que é errado em uma disputa de título mundial. E a luta foi programada para ter 12 rounds, mas cortaram na hora para 10 rounds. Isso é fato, não é minha opinião - afirmou.
A ideia de tentar a sorte no MMA já fazia parte dos pensamentos de Duda há algum tempo. A boxeadora pôde acompanhar a grande e rápida evolução da modalidade e enxergou nisso a chance de atrair patrocinadores e mais atenção da mídia:
- Em primeiro lugar, a mídia e os patrocínios. O boxe era um esporte em que se ganhava muito dinheiro, mas as bolsas eram altas só para algumas categorias no mundo profissional. O MMA percorreu um longo caminho e hoje é uma profissão, uma coisa que nenhum outro esporte conseguiu dessa maneira. Existe um grande acompanhamento de mídia, de patrocinadores e bastante inventimento. As competições, como o UFC e o Strikeforce, viraram espetáculos mundialmente acompanhados e se comparam no Brasil só a uma Copa do Mundo de futebol. O MMA é algo diferente, algo em que as pessoas investem, e isso fez a gente migrar. Não sou a primeira e nem serei a última.
Enis Pacheco vence luta de boxe contra Duda Yankovich (Foto: Reuters)Duda Yankovich perdeu para Enis Pacheco em
março de 2012, pelo título da WBO (Foto: Reuters)
Os patrocínios, por sinal, estão em falta para Duda Yankovich. Ela conta com algumas parcerias e ganha alimentos de suplementação, protetor bucal, roupas, equipamentos de treino, além de fazer preparação física, fisioterapia e acupuntura. Mas falta a ajuda em dinheiro. Por isso, ela se sustenta com outras atividades, o que a distanciou do "mundo perfeito".
- Vou deixar claro que sou uma ótima profissional, mas adoraria não precisar trabalhar no momento. Faço isso pela falta de patrocínio em dinheiro e a necessidade de pagar as contas. Sou formada em Educação Física, trabalho como professora de boxe de uma academia e como professora de "Ladies Camp", uma atividade física nova para mulheres. E dou aula particular. Dou aula de boxe para um cadeirante, o Rafael França. Gosto de coisas diferentes, de pessoas que se dedicam. Gosto de trabalhar, mas eu queria treinar mais e trabalhar menos. Infelizmente, só no mundo perfeito.
Nascida na cidade de Jagodina, na Sérvia, Duda quer se naturalizar brasileira. Mas a vontade dela não é o suficiente neste caso. A lutadora diz que precisaria ser casada com um brasileiro ou ter um filho nascido aqui. E ela não tem nenhum dos dois, apesar de morar junto do lutador de MMA da equipe XGym Douglas Moura, com quem mantém um relacionamento sério.
É um processo lento, burocrático, e não depende de mim. Mas eu me considero uma brasileira, tanto que eu luto pelo Brasil, e não pela Sérvia. Isso já é o suficiente"
Sobre se naturalizar brasileira
- Já estou em processo de naturalização. Você não deve questionar isso a mim, deve questionar isso ao governo. No Brasil, só demora mais tempo para quem quer ser regular. Não é uma coisa tão fácil de ser feita, não é uma opção. Se eu quero? Eu quero. Mas se você não tiver filho brasileiro ou casamento com brasileiro, não te traz nada. É um processo lento, burocrático, e não depende de mim. Mas eu me considero uma brasileira, tanto que eu luto pelo Brasil, e não pela Sérvia. Isso já é o suficiente.
A primeira visita de Duda ao Brasil ocorreu em 1998, mas foi uma viagem de apenas um mês. Em 2000, voltou para ficar mais três meses e acabou morando definitivamente por aqui. Na época, a antiga Iugoslávia se recuperava dos estragos causados pela Guerra de Kosovo, conflito entre forças de segurança sérvias e o Exército de Libertação de Kosovo, província que buscava a independência daquele país.
Só lutadores de MMA: com a amiga Ana Maria India e o namorado Douglas Moura (Foto: Reprodução / Twitter)
- A grande pergunta é se eu fugi da guerra. Não. Depois da guerra, eu era atleta da seleção sérvia de kickboxing. Viajava, treinava... E com a guerra tudo parou. O governo de lá não tinha mais dinheiro para investir nas academias por estar recuperando o país. Eu tinha 21, 22 anos, e não queria parar. Como eu já tinha vindo ao Brasil (em 1998), reativei alguns contatos e vim para passar três meses. Estou completando meu 13º ano.
Atualmente Duda mora no Rio de Janeiro e treinava na XGym, mas se mudou para a Team Nogueira por considerar o trabalho mais técnico. Os ídolos dela? Os irmãos Nogueira, Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro, que administram a academia no Recreio dos Bandeirantes.
Duda Yankovich, Minotauro e Minotouro, MMA, UFC (Foto: Reprodução / Twitter)Entre os ídolos Rogério Minotouro (E) e Rodrigo
Minotauro (D) (Foto: Reprodução / Twitter)
- Eu os conheço há mais de dez anos. São lendas vivas, guerreiros, exemplos de superação. Hoje tudo é mais fácil no MMA por causa deles. Eles foram pioneiros em absolutamente tudo. Quando ninguém dava nada, quando ninguém aceitava fazer umas lutas loucas, eles faziam. Os projetos sociais eles começaram a fazer quando ninguém fazia. Sou agradecida por ter essa oportunidade de estar aqui.

Desde de que botou na cabeça que iria experimentar novos ares, a sérvia passou a treinar jiu-jítsu e wrestling. Apesar de ser experiente no boxe - tem 15 lutas, com 11 vitórias e quatro derrotas e títulos como o da Associação Internacional de Boxe Feminino em 2006 -, ela mostrou humildade por ser estreante no MMA:
- Posso ter a experiência que for no mundo do boxe, mas continuo sendo estreante no MMA. As pessoas confundem isso. A pressão é sempre maior em cima de mim por já ter essa experiência, só que não é a mesma coisa.
Não tenho muito mais tempo de carreira competitiva. Isso é claro e óbvio, já sou veterana. Mas o tempo que eu tiver, um, dois ou três anos a mais, vou fazer o máximo possível. Mas não vai depender só de mim"
Sobre a aposentadoria
Aos 35 anos, Duda mantém os pés no chão sobre seu futuro. Com consciência de quem já não está no início da carreira, apesar de estar ingressando no MMA só agora, ela cogitou ficar na ativa por mais uns três anos:
- Não tenho muito mais tempo de carreira competitiva. Isso é claro e óbvio, já sou veterana. Mas o tempo que eu tiver, um, dois ou três anos a mais, vou fazer o máximo possível. Mas não vai depender só de mim. Depende da academia, da assessoria da academia. Vamos analisar o que for bom. Não tenho que pensar em me aposentar. Só sei que hoje, com 35 anos, sou melhor do era com 20.
Quem quiser assistir à estreia de Duda Yankovich no MMA, contra Jéssica Andrade, poderá acompanhar o Bitetti Combat 12 no canal Combate, na noite deste sábado. A transmissão do evento está programada para ter início às 20h45m (horário de Brasília).

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