É inegável que foi divertido enquanto durou. A criatividade e rapidez de raciocínio de Chael Sonnen conseguiam colocar de forma precisa um comentário espirituoso em qualquer tipo de situação. Suas tiradas sempre ajudaram a colocar fogo nos combates em que esteve envolvido, resultando em mais dinheiro no bolso dos lutadores. Caso ainda não tenha ficado claro: Promover as lutas significa plantar palavras para colher riqueza. Especialmente quando o atleta não possui uma variedade importante de talentos que sejam suficientes para elevá-lo aos maiores postos do esporte.
Chael tem um bom wrestling, isso é um fato. Sem qualquer potência na trocação ou habilidades de finalização, acaba despejando todas as suas energias em uma estratégia de travar a luta, levar o oponente ao solo e permanecer por cima pontuado, sem intenção de terminar o encontro com golpes contundes ou técnicas de Jiu-Jistu, por exemplo.
Provocou Jones, sem a tenacidade com que atacou Anderson Silva, e conseguiu a luta para a revolta de competidores da categoria e dos fãs em geral. Vendeu seu produto para conseguir garantir um final de carreira tranquilo e entrou no octógono para testar a eficácia de seu anjo da guarda. O que vimos foi uma surra. Sonnen com a mesma manjada estratégia de pressionar. Mas o que mais ele poderia fazer? Controlado como um amador e derrubado com extrema facilidade, não conseguiu passar do primeiro round.
O dia 27 de abril de 2013 marcou o término da carreira de Chael Sonnen. Pelo menos no que diz respeito à novas tentativas de disputa de cinturão. Lutadores com muito mais talento do que o “Gangster Americano” não tiveram qualquer chance de buscar o topo do UFC, o que dirá receber incríveis três oportunidades. Dana White quer a lucratividade de seu negócio, mas precisa preservar a credibilidade. De bobo o presidente da maior companhia de MMA do mundo não tem nada. O “ciclo Chael Sonnen” chegou ao fim. Para preservar sua alegada fixação por algum título e vontade de sempre competir contra os melhores, Sonnen deve parar. Com esta nova derrota foi relegado ao grupo dos lutadores que possuem representatividade, no seu caso talvez mais do que deveria, porém já não conseguem ultrapassar determinado limite competitivo. Em outras palavras, Sonnen jamais será campeão do UFC e suas oportunidades de buscar um milagre passaram. É impossível saber de fato a extensão da lesão de Anderson Silva no combate em que foi amplamente dominado pelo americano. O que podemos analisar, com certeza, é que nas próximas duas lutas em que Chael enfrentou campeões “saudáveis” acabou inapelavelmente derrotado.
O esporte precisa costumeiramente de personagens para escapar da rotina. Com a evolução do MMA e a profissionalização dos envolvidos, a padronização de um comportamento “respeitoso” diante dos microfones acaba por apresentar, paulatinamente, uma burocratização das declarações. Os grandes provocadores, os desafios diretos e as rivalidades estão desaparecendo. Talvez seja esse o único aspecto da época do Vale-Tudo que será lamentado quando fatalmente sumir. Caminhamos para entrevistas respeitosas no estilo “estamos trabalhando duro e esperamos poder ajudar o professor e os companheiros para no domingo conseguirmos uma vitória para esta torcida maravilhosa”. Sem personalidade, sem riscos.
A função do atual meio-pesado é preencher a lacuna de vilão. Ser o odiado. Aquele que aceitamos pagar para ver ser espancado no pay-per-view. Não são poucos os jornalistas e atletas a confidenciar que desligadas as câmeras Chael Sonnen é uma das mais carismáticas, respeitosas e inteligentes pessoas envolvidas na modalidade. Dana White reconhece o “sacrifício” de seu empregado e garante o melhor posicionamento positivo dentro do UFC, coroado com a participação como treinador do TUF 17, finalizado há poucas semanas.
Sonnen é valente e essa qualidade nenhum torcedor poderá questionar. Ele quer os melhores, mesmo sabendo de sua total falta de qualidade, coloca sua integridade física e cartel em jogo, mesmo que aproveitando o nome dos adversários para lucrar. Sua mentalidade deveria ser copiada por outros colegas que preferem escolher lutas contra oponentes que se sintam seguros do que buscar desafios à sua altura. Sonnen não tem técnica, não tem punch para nocautear um boneco de papelão, não tem capacidade de finalizar um saco de batatas, mas desconhece o medo. O “Ciclo Sonnen” chegou ao fim. Aos 36 anos não terá mais tempo nem vontade para escalar a divisão depois de ser jogado ao fim da fila. Suas participações na bancada do UFC Tonight rendem elogios e divertem a audiência. Ao contrário de muitos lutadores que não sabem o que fazer na aposentadoria, ele já possui seu futuro profissional garantido ao utilizar a mesma arma que alçou sua carreira ao patamar atual, a língua.
O que podemos tirar de lição sobre a carreira do wrestler é que o mais importante é mirar os maiores desafios possíveis na vida. Mesmo quando parece impossível, devemos pensar grande e alto. Afinal, se o limitadíssimo Sonnen esteve próximo 90 segundos de vencer cinco rounds contra o lutador considerado o maior de todos os tempos pelo UFC, por que não poderemos ter o mesmo sucesso?
Por Rodrigo Peixoto.
Foto: David Dermer/Diamond Images/Getty Images
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