Popó, Mike Tyson e Mirele Cruz, ídolos do boxe com histórias semelhantes de superação que nocautearam uma infância difícil através do esporte. Você pode estar se perguntando quem afinal é Mirele Cruz? A resposta está na ponta da língua, em alto e bom som pela nova geração de pugilistas sergipanos que seguem os passos da mais nova estrela do boxe.
“Mirele saiu daqui do bairro Santa Maria e venceu pelo Boxe, ela é um exemplo para todos nós que somos da escola Punhos de Ouro. Aqui no bairro, ela é um ídolo”, revela Danilo Santos Pereira, de 10 anos, aluno do projeto 'Punhos de Ouro' que trabalha o esporte na vida de dezenas de crianças e adolescentes do bairro Santa Maria, localizado na zona sul da capital.
Com apenas 17 anos e há três praticando boxe, a sergipana Mirele da Cruz, é a atual campeã
Um exemplo de superação
basileira na categoria até 46 Kg. Apesar de colecionar vários títulos no ringue, Mirele comemora o nocaute fora dele. A menina que morou dos 4 aos 13 anos em um orfanato, enfrentou problemas de violência e alcoolismo na família. Com o olhar firme de quem sabe aonde quer chegar e a timidez de uma garota que até bem pouco tempo vivia diariamente um cotidiano de agressões, Mirele relata sua infância e lembra que cresceu sem o carinho dos pais.
“Aos quatro anos estava na rua com minhas duas irmãs pedindo esmolas e fui levada pelo juizado para morar no Oratório de Bebé, aprendi muita coisa lá, mas sofria muito com a ausência da minha família. Passei sete anos sem receber nenhuma visita da minha mãe. Quando completei 13 anos deixei o oratório e fui morar com meu pai em uma casa que ganhei das freiras”, lembra Mirele que pouco tempo depois teve a casa queimada por bandidos.
“Depois desse incêndio fui morar com meus pais e meus sete irmãos em uma pequena casa no Morro do Urubu, uma vida muito difícil porque não tinha água encanada e a casa também não tinha
A atleta se prepara para competir no Canadá e em Barbados
“Vim para o projeto Punhos de Ouro porque queria praticar boxe para bater em meu pai, tinha muita raiva porque ele batia muito na minha mãe, mas com o tempo o Valter Duarte foi me orientando e dizendo que eu tinha potencial, o Valter mostrou que o boxe não tem nada a ver com a violência”, conta.
Anjo
Mirele diz que o pai impediu que ela praticasse o esporte e foi preciso sair de casa para continuar. Agradecida, a atleta relata que recebeu apoio de dona Adailma, carinhosamente chamada como Loura, uma antiga patroa da mãe da pugilista. “Durante cinco anos eu sempre dormia lá no final de semana, mas quando saí de casa, ela me chamou para morar lá. Ela me ajudou a enfrentar aquela situação, me deu muito apoio, passei a morar na casa dela com o apoio de toda a família. Foi ela quem me incentivou a voltar para o esporte, quando estava pensando em desistir”, afirma.
Exemplo
Filha de um ex-presidiário e uma mãe com problemas de alcoolismo, Mirele carrega a responsabilidade de ser exemplo para os irmãos, e apesar dos dramas enfrentados, demonstra ternura e gratidão. “Não quero ganhar nada para mim, tudo que faço é pensando na minha mãe que é uma mulher batalhadora, forte e muito sofredora”, reconhece.
Referências
Mirele não esquece que a vitória nos ringues é uma vitória do projeto 'Punhos de Ouro' que tem à frente o presidente da Federação Sergipana de Pugilismo, Valter Duarte. “Sem esse projeto eu não seria ninguém, poderia até terminar me envolvendo com drogas ou violência, mas fui resgatada através do projeto. Encontrei apoio e uma família, porque o que tenho aqui não recebi em casa. Quando pensei em desistir o Valter Duarte, o Valtinho Júnior e o Adriano me incentivaram a continuar”, agradeci.
Competições
A atleta, que faz parte da elite da seleção brasileira de boxe, se prepara para o desafio de várias competições até o final desse ano. Em uma delas Mirele vai para o Canadá, participar do Campeonato Pan-Americano, em agosto, e Barbados, onde competirá no Mundial, em setembro. “Estou ansiosa porque não falo a língua deles, mas o que faço não precisa falar, vou lá para vencer”, e ninguém dúvida disso.
O projeto 'Punhos de Ouro' precisa de ajuda para continuar pelo esporte, Valter Duarte, não economiza ao falar sobre a falta de apoio do empresariado sergipano. De acordo com o presidente da Federação Sergipana de Pugilismo, o projeto 'Punhos de Ouro' já provou o seu valor e importância ao acolher crianças e adolescentes em situação de risco.
“Peço ao empresariado local que atente que se agir no começo vai evitar que a casa, sua família e seus filhos sejam assaltados. Não recebemos ajuda de ninguém para manter o projeto, preciso de alimentos, calçados e roupas. Estou cansado de receber palminhas nas costas de parabéns e não receber ajuda”, afirma Valter que paga um aluguel de R$ 550 do próprio bolso pela utilização da casa onde são realizados os treinamentos.
Uma nova geração de atletas pode ser formadas através do projeto
Valter Duarte lembra que apesar dos excelentes resultados e do destaque de Mirele Cruz, a atleta não tem uma residência para morar. “A responsabilidade de ajudar não pode ser somente do Governo do Estado, o empresariado tem que deixar de ser pão duro e ajudar. O que é necessário provar? Já que na cidade de melhor qualidade de vida uma atleta de elite não tem uma casa para morar”, reflete o presidente da Federação que agradece ao secretário da Secretaria de Esporte e Lazer, Maurício Pimentel, pelo apoio para a realização de competições no Estado.
Punhos de Ouro
Quem desejar visitar o projeto e ajudar a manter o sonho de dezenas de crianças pode entrar em contato através do (079)9992-1818.
Por Kátia Susanna
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