A carioca Kyra Gracie, campeã do Mundial de jiu-jitsu, na praia do Recreio, Rio (Foto: Selmy Yassuda)Musa do esporte, a carioca faz jus ao sobrenome do clã que popularizou a modalidade no Brasil e produziu os melhores lutadores do mundo.
Tímida, ela fala baixo e compassadamente. Puro disfarce. Vaidosa, gosta de cuidar principalmente dos cabelos longos e usa o raro tempo livre que tem para ir ao salão de beleza.
Até aí, nada muito diferente de qualquer outra garota de 25 anos, não fosse ela Kyra Gracie, a brasileira que ganhou pela quarta vez o título do Mundial de jiu-jitsu, realizado em junho, em Long Beach, Califórnia.
Espécie de musa do esporte (com predicados como 1,69 m em 60 quilos de músculos definidos), a carioca de 25 anos faz jus ao sobrenome do famoso clã que popularizou a modalidade esportiva no Brasil e produziu os lutadores mais respeitados do mundo. Ironicamente ela é a única faixa-preta feminina na família. Talvez por isso, Kyra faça questão de marcar a sua delicadeza através de quimonos e unhas cor de rosa, sua marca registrada. A suavidade para por aí, já que no tatame ela vem se mostrando imbatível, com quatro vitórias no peso leve – 2004, 2006, 2008 e 2010 – e uma medalha de ouro na categoria Absoluto (aberta para todos os pesos).
A lutadora recebeu a reportagem do iG em sua casa, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio. Com a ajuda da irmã, Rayra, ela protagonizou alguns golpes em seu tatame personalizado. Provou “na pele” a máxima: “mente sã, corpo são”. E num passeio pela praia também deixou claro que o inverso também é verdadeiro. Entre goles de suco de laranja lima sem açúcar, parte da dieta da família, ela deu a entrevista a seguir:
iG: Como foi a vitória no Mundial 2010?
Kyra: Esse campeonato teve um gostinho especial, porque no ano passado fiquei em segundo lugar. O treinamento é de uma vida, mas intensifiquei nos últimos três meses antes da luta. Comecei a competir com 11 anos e sou de uma família que praticamente nasce no tatame.
iG: Como é o incentivo dentro de casa?
Kyra: Quando alguém da família Gracie está grávida, a primeira providência é comprar um quimoninho (risos). A gente aprende a arte desde cedo, mas entre as mulheres, ninguém havia encarado a luta profissionalmente, como eu fiz. Os meninos sempre foram muito machistas e achavam que eu ia deixar essa história para lá. O tempo passou e hoje eles são meus maiores incentivadores. Tenho sorte de ter os melhores professores dentro de casa.
iG: Você usa quimono dor de rosa. É uma provocação?
Kyra: Quando era pequena, achava que jiu-jitsu era coisa de homem e quando eu comecei a lutar, quis dar toques mais femininos ao uniforme. Treinava de blusa rosa por baixo ou colocava uma borboletinha no quimono. Um dia eu pensei: por que não tingir de rosa? Disseram que eu estava doida! Até que um patrocinador fez um para mim. Foi um sucesso tão grande, que comecei a comercializar. Só ano passado vendi cerca de 1200 peças.
iG: Você se sente uma referência para as meninas dentro da arte?
Kyra: Acho que o jiu-jítsu feminino precisava de uma mulher para ajudá-lo a crescer e o fato de eu ser uma Gracie ajudou bastante. Antes, era só eu de mulher treinando na academia. Hoje, dou aula para turmas só de meninas tanto aqui, quanto nos Estados Unidos e Europa, por onde passo ministrando seminários. Fico feliz de ser alguém na qual elas possam se espelhar.
iG: E como autêntica representante feminina, consegue separar o lado “guerreira” do “Penélope Charmosa”?
Kyra: Sempre arrumo tempo para me cuidar. Sou vaidosa! Na minha agenda, fora da época de campeonato, tem sempre um dia de salão de beleza: faço pé e mão, depilação, hidratação e cauterização dos cabelos. A parte corporal não precisa, não é? O treino ajuda a deixar a barriga sarada (risos).
iG: Você gosta de botar uma minissaia e ir para a balada?
Kyra: Sou uma pessoa do dia, mas adoro comprar roupas. Se estou em hotel de competição ou academia, evito peças provocantes ou chamativas. Fora dali, uso vestido, saia, ponho para fora os brilhos. Quando não estou treinando ou dentro de uma academia, tenho toda a chance de ser sexy.
iG: Você está namorando?
Kyra: Estou há dois anos com o judoca Leonardo Leite. Namorar alguém do esporte não é fácil, mas a compreensão é maior. Fiquei dois meses fora em função do Mundial. Voltei, ficamos dois dias juntos no Rio e ele foi para a Rússia. É complicado, mas dá certo.
iG: Você se sente mais confiante por saber lutar?
Kyra: Com certeza. Quem compreende a arte do jiu-jitsu não briga, porque sabe que não precisa provar nada para ninguém. É um esporte que promove a autoconfiança. As pessoas que arrumam confusão na rua querem autoafirmação. Quando você sabe que não apanha de ninguém, você não precisa bater.
iG: Então, o que você diria em relação aos lutadores que vivem nas páginas policiais?
Kyra: Diria que essas pessoas não são lutadores, porque elas precisam se autoafirmar e ao fazê-lo denigrem a imagem do esporte. A questão é que se trata de uma arte muito eficaz, então, quem pratica por dois meses e vai para a rua brigar, não pode ser considerado da categoria. Converso sobre isso com meus alunos para que essa prática seja banida.
iG: Mas houve casos de briga dentro da própria família Gracie...
Kyra: A confederação de jiu-jítsu é a responsável por punir esse tipo de comportamento. A minha família é muito grande, somos mais de 200 lutadores e é difícil controlar cada um. Mas acho que dentro do clã a gente tem bons exemplos em maior quantidade.
iG: Você tem algum sonho que não tenha a ver com o jiu-jítsu?
Kyra: Casar e ter filhos. Meu bisavô Carlos teve 21 herdeiros que o ajudaram a disseminar a sua arte. Não pretendo chegar a tantos, mas, seguindo uma tradição familiar, gostaria de ter uns cinco filhos, como minha mãe fez. Assim sendo, tenho ainda uns cinco anos de campeonato pela frente.
http://www.oriobranco.net/noticias/3536-kyra-gracie-mostra-no-corpo-os-beneficios-do-jiu-jitsu.html
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